quinta-feira, 15 de março de 2018

HOJE NÃO PODEMOS FICAR CALADOS

ARTUR COIMBRA
Hoje não podemos fazer de conta que não aconteceu nada. Hoje temos de abandonar a indiferença cúmplice e acobardada em que temos andado, assobiando para o lado, perante as imagens chocantes de cidades destruídas, de populações dizimadas, de crianças chacinadas.

Hoje, 15 de Março, transcorrem sete anos desde que começou a mortífera e sangrenta guerra civil na Síria, no quadro mais genérico da aura de esperança que se abriu na região com as experiências da chamada “Primavera Árabe”.

Na Síria permaneceu o Inverno, já lá vão 84 meses, 365 semanas, 2 558 dias. É muito tempo de guerra. São muitos meses, imensas semanas, enormes dias, lentíssimas horas de guerra. 

Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar, como reza o poema da Sophia.

Nos nossos dias, está a decorrer uma carnificina sem limites na Síria. Mais uma vez. Num país dominado por um tirano sanguinário, embora com tiques ocidentalizantes e uma simpatia disfarçada, que deveria ser julgado no Tribunal Penal Internacional de Haia.

É sempre demasiado tarde para falarmos dos crimes contra a Humanidade, como os que estão a trucidar a cidade de Ghouta Oriental. E a Síria em geral, território muito antigo mas que os criminosos destruíram e transformaram em montes de escombros e na banalização da morte, o que só pode provocar revolta, indignação e desespero por todo o mundo civilizado. Pois civilização é o que não existe num regime bárbaro como o de Bashar al-Assad. 

Segundo a Rede Síria para os Direitos Humanos, citada pela imprensa, só no ano passado morreram 10.204 civis na guerra na Síria. Desses, 2.298 eram crianças. E este ano, só num mês, já foram mortos mais de um milhar de civis, incluindo centenas de crianças!... Nos últimos sete anos, terão morrido mais de 20 mil crianças na Síria. Uma matança de que não há memória, de um governo contra os seus próprios cidadãos!...

A cada momento, morre um ser humano na Síria, massacrado pelas bombas do regime, apoiado pela Rússia.

A França descreveu os bombardeamentos do Governo de Assad como uma “grave violação da lei humanitária internacional”.

Nesta ofensiva estão a ser realizados raides aéreos e bombardeamentos com rockets e outros projécteis, que incluem as famosas bombas de barril — literalmente, barricas cheias de explosivos, pregos e tudo o mais que possa causar danos graves no local em que rebentam.

“Estamos a assistir ao massacre do século XXI”, retratou um médico, que há dias estava na região. “Se o massacre dos anos de 1990 foi em Srebrenica [Bósnia], e os massacres da década de 1980 foram em Halabja [cidade no Curdistão iraquiano] e Sabra e Shatila [Líbano], então Ghouta Oriental é o massacre deste século, do que vivemos até agora”, acrescentou.

A questão é que o mundo assiste passivamente a um genocídio, que não respeita mulheres, velhos e crianças, como seria de esperar e que se transforma em cada dia que passa numa sucessão de crimes contra a humanidade.

As Nações Unidas bem decretam o cessar-fogo mas o regime não o respeita, a Rússia manda na região e não liga nenhuma e as populações civis estão a ser selvaticamente dizimadas, numa desumanidade que não deveria ser possível no século XXI.

Até onde está disposto a ir o criminoso Bashar al-Assad para se manter no poder, à custa do sangue dos seus concidadãos e da morte inclemente de milhares de inocentes?

E já agora, que força tem o mundo para proteger as populações civis da fúria sangrenta destes vândalos no poder?

Nenhuma, ao que se vê, pois o tirano põe e dispõe, com a ajuda dos aliados, mata, bombardeia, destrói, transforma impunemente um histórico país num monte de escombros e num cemitério do seu próprio povo!

Por isso, hoje é dia de não estarmos calados e de gritarmos bem alto que já chegam os massacres na Síria e em especial em Ghouta Oriental.

Que os Estados Unidos, as Nações Unidas, quem quer que seja, ponham termo à vergonha do retrocesso civilizacional que está a trucidar a Síria desde há exactamente sete anos!

Que haja respeito, ao menos, pelas vidas humanas!

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