RAUL TOMÉ |
Só dás pelo tempo quando dói, quando a agonia lancinante te rasga o fegundo esgar dessa amorfa existência. E nessa dor, tantas vezes dilaceras, por prazer ou por impotência, a tua nobre e singela essência, reduzindo-a a cacos subjugados às vontades alheias.
Só dás pelo tempo quando é tarde demais, quando o comboio das oportunidades já apita ao longe na curva das reprimidas vontades e das mentiras que nunca se tornaram verdades. Nesse medo, do futuro e do desconhecido, dás pelo tempo que atropelou o que tanto desejavas e que não mais regressou.
Só dás pelo tempo quando anseias acalmar o bater do teu coração, em busca de amor ou da satisfação que, alheia a ti, escorre pelos ponteiros lentos do relógio que teima na tortura que jaz dentro desse tempo que não se apressa.
Não dás pelo tempo que escorre e se esvai todos os dias, em cada minuto, e despreza-lo porque o tempo não existe para além dos horários a cumprir. Nesses momentos, eternizas o tempo, congelando o que és para consumir no tempo certo.
Mas o tempo não pára e não te permitirá qualquer acerto. O que passou, passou. E na irrecuperabilidade do tempo passado, alimentaste os dias em que não foste nada.
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