TIAGO CORAIS |
Todos sabemos que a Autoeuropa é uma empresa muito importante para a economia portuguesa, representa 1% do PIB, 4% das exportações Portuguesas e dá emprego directa e indirectamente a 8.700 pessoas. É uma empresa que ao longo destes anos, nos habitou a ser um exemplo na forma como a Administração e os Colaboradores negociavam acordos adaptados às realidades e às dificuldades de cada momento. Por estas razões, muitos de nós estranhamos o momento actual e a tensão que se vive dentro da Autoeuropa. Não percebendo como é possível que duas Comissões de Trabalhadores negociem o pré-acordo com a Administração da Autoeuropa e depois em referendo é chumbado pelos Colaboradores. Muitos acusam que é o PCP que está a manipular os trabalhadores, outros usam um discurso inflamado contra os sindicatos. A própria comunicação social não ajudou muito na fase inicial no esclarecimento do que se passava nesta empresa, dando a entender que os Colaboradores não queriam trabalhar ao Sábado. O que não é verdade que esse seja o ponto de desentendimento.
Sinceramente ao ver o programa da RTP “Prós e Contra” de 11 de Setembro deste ano, percebi que existem muitas falácias à volta deste problema e como é injusto falarmos em manipulações quer por parte do PCP ou dos Sindicatos. Segundo o que foi dito naquele programa no máximo 17% é que são sindicalizados por mais de três sindicatos. Por isso, 17% não é 75% que foram quantos rejeitaram o primeiro pré-acordo, nem 63% que foram quantos rejeitaram o segundo acordo.
Outra conclusão que retirei do programa “Prós e Contras”, é que o que está em causa não é apenas a obrigatoriedade de trabalhar ao Sábado e folgar a um dia de semana. O que está em causa são os turnos rotativos, as alterações aos horários sem opção de escolha, o pagamento do Sábado e do Domingo como um dia normal, o não gozarem dois dias de descanso seguidos e só quem nunca fez turnos rotativos é que não sabe o que isso significa. As transições dos turnos encurtam os fim-de-semanas. Se só tiverem um dia por semana de folga, isso significa na prática apenas meio-dia de folga por semana. A Autoeuropa é muito importante para o País, mas a qualidade de vida e a conciliação do trabalho com a família também deve ser acautelado e compensado financeiramente.
Por esta razão vi com bons olhos que o Governo irá assumir responsabilidades com a criação e reforço de equipamentos sociais de apoio à família e que responda aos novos horários da Autoeuropa com mais creches e horários diferenciados. Mas é importante que o Governo tenha em mente que não contamine o problema da Autoeuropa nos colaboradores dessas creches. Horários que tornem mais difíceis a vida familiar devem ser compensados financeiramente de forma a minimizar o que há mais valioso neste mundo, que é estar com os “nossos”.
Outra falácia que tenho lido é que já existe uma alternativa para produzir T-Roc e como profissional da Indústria Automóvel, tenho a noção que produzir automóveis não é como produzir t-shirts, em que se muda a produção do dia para a noite. A indústria Automóvel é um sector de capital intensivo, onde absorve muitos recursos financeiros, ao qual o lançamento de um novo veículo tem inúmeras fases e a meta de produção de 280 mil veículos até ao final de 2018, onde já foram investido na Autoeuropa cerca 700 milhões de euros, não é possível mudar a produção do T-Roc para outra fábrica sem custar milhões de euros e sem alterar os prazos de lançamento.
Infelizmente a nossa comunicação social não consegue fazer melhor do que acompanhar o debate que se faz nas redes sociais. Onde hoje de forma generalizada somos contra quem luta pelos seus direitos, esquecendo-nos que o mundo só evoluiu para melhor porque no passado alguém lutou por nós e os sindicatos são organizações fundamentais para que tenhamos uma sociedade equilibrada, em que haja um equilíbrio entre o trabalho, o lazer e principalmente o espaço para a família. Por isso, dou os parabéns ao programa da RTP 1 “Prós e Contra” por ter esclarecido o que se passa na Autoeuropa, pecando por não emitir um novo programa esclarecendo sobre o segundo pré-acordo chumbado e fazendo o ponto de situação.
Termino este artigo, na esperança que haja um entendimento, que seja satisfatório para ambas as partes, mas em especial para quem lá trabalha. Pois se for um bom acordo para os colaboradores da Autoeuropa, não tenho dúvidas que será um bom acordo para a Autoeuropa e para Portugal. Uma ECONOMIA que não ponha as pessoas em primeiro lugar, NÃO É ECONOMIA.
Que bem, Tiago!
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