Portugal
faz parte do grupo de países com maior percentagem de jovens com excesso de
peso ou que sofrem de obesidade. A conclusão é do estudo “Health Behaviour in School-aged Children”, realizado de
quatro em quatro anos na Europa e na América do Norte, em colaboração com a
Organização Mundial de Saúde.
O
último estudo publicado, que abrangeu cerca de 200 mil jovens, data de maio de
2012 e dá conta que Portugal, num ranking de 39 estados europeus e da América
do Norte, aparece em 5.º lugar, quando estudados os alunos de 11 anos, em 4.º
lugar, quando tidos em conta os de 13 anos, e em 6.º lugar, no grupo dos de 15
anos.
O
jogo de futebol à chuva e na lama foi sendo progressivamente trocado pelos
jogos na playstation, onde os jovens
se acomodam em frente à televisão. Também as refeições foram substituídas por
produtos calóricos, como por exemplo o fast-food.
A contrariar esta tendência aparecem jovens que não se deixam influenciar por estes estilos comportamentais – é o caso dos nossos entrevistados: Fábio Pacheco, Filipa Monteiro, Margarida Teixeira e Bárbara Neves.
Fábio Pacheco: “Eu não sou rapaz de desistir facilmente dos meus sonhos e ambições. Sei que para ser futebolista é preciso trabalho árduo e muita persistência…”
Fábio Pacheco 13 anos - joga futebol |
Fábio Pacheco tem 13 anos e frequenta o 8.º ano de escolaridade. Quanto à profissão que gostaria de ter, esta passará, certamente, pela área do desporto, já que ambiciona ser futebolista profissional ou professor de Educação Física, daí que prefira as aulas de desporto.
Assume que a paixão pelo futebol nasceu com ele, entrando com apenas 8 anos para a equipa dos “Gonçalinhos”, em Amarante. Diz que todos os treinadores que teve foram excelentes profissionais, “fazendo grandes amigos”. O seu ídolo no mundo do futebol é James Rodriguez, “porque não só joga numa das suas posições (extremo), mas também, porque adora a sua forma de jogar e a sua técnica”.
Neste momento tem treinos no Amarante Futebol Clube três vezes por semana, entre as 18.30h e as 20.15h. Ainda assim, diz que lhe sobra algum tempo para os estudos: “neste tempo de crise é preciso estudar porque agora nada é certo em termos de emprego, por isso, não tenciono deixar os estudos para o futebol exclusivamente”, refere Fábio Pacheco.
Os golos da vitória
Fábio joga a extremo DR |
Para o jovem
entrevistado, o futebol é um trabalho de grupo: “um jogador não faz uma
equipa”.
Assume
estar a passar por uma época muito boa: “marco golos em quase todos os jogos,
claro que é muito bom marcar, sinto que cumpro o meu objetivo que é esse,
marcar e marcar cada vez mais golos”.
Quanto
ao golo que não esquece refere que “já marcou muitos bons golos, mas talvez, aquele
que marcou à equipa do Valongo. Estava (0-0), entrou na 2ª parte e faz um golo
de chapéu de fora de área. Sentiu que salvou a sua equipa, nesse momento”,
confidencia.
O futuro
Fábio
ainda nada decidiu sobre a sua carreira futebolística: “sou um rapaz ainda
muito novo, quando tiver os meus 15/16 anos poderei pensar em ingressar numa
escola de futebol, como o F.C Porto, mas para isso ainda é preciso eu trabalhar
muito”, esclarece. Porém, “não é rapaz de desistir facilmente dos seus sonhos e
ambições”. Sabe que “para ser futebolista é preciso trabalho árduo e muita
persistência, mas se trabalhar muito para o conseguir, pensa que consegue”,
antevê o jovem.
Filho
único, vê na família o “pilar de apoio”, que está presente em todas as ocasiões,
“nos momentos de euforia, mas também de algum nervosismo”.
Conciliar
horários com o sonho de ingressar no mundo do futebol
Vera Lúcia Melo Psicóloga DR |
Como Fábio Pacheco, outros jovens praticam desporto
durante o ano letivo, tendo que conciliar horários. Vera Lúcia Melo, psicóloga
no ramo educacional, considera que “um aluno deve receber apoio dos pais no
interesse de uma prática desportiva, no entanto, é preciso `negociar` com ele o
compromisso de que deverá fazer o possível para que isso não interfira com o
seu desempenho escolar”, refere a técnica.
Outras
das questões recorrentes no consultório de Vera Lúcia Melo é o facto de alguns
jovens acharem que não precisam de estudar, já que os jogadores “ganham muito
dinheiro”. Em relação a estes casos, a psicóloga aconselha estes jovens,
dizendo-lhes que “mesmo que um dia venham a ser grandes jogadores de futebol,
como o Cristiano Ronaldo, isso não inviabilizava de continuarem os seus
estudos, até porque o futuro profissional de um jogador é de certa forma
limitado, principalmente na questão da idade, e por isso deverão ter outros
projetos profissionais”.
Filipa Monteiro:
“Mas não é por sermos raparigas que possam pensar que os jogos são fáceis e
somos frágeis…nada disso.”
Filipa Monteiro 14 anos - joga voleibol |
Filipa
Monteiro frequenta o 10.º ano de escolaridade na área das Artes, já que o
desenho é algo que adora fazer e, ser arquiteta é mesmo o sonho que pretende
alcançar. Apesar de ser boa aluna, há uma coisa que não dispensa – a prática de
exercício físico. Começou a jogar voleibol com 10 anos, fruto da iniciativa
levada a cabo pelo desporto escolar. Assume já estar habituada aos treinos
rigorosos: “já lá vão quatro anos, por isso, é normal que estejamos habituadas
aos treinos, apesar de, por vezes, o ´stor` de certa forma nos castigar,
fazendo com que tínhamos o treino todo de esforço físico (corridas, pesos,
saltos)”, confidencia.
Este
ano, devido à carga letiva, apenas tem treinos uma vez por semana. Questionada
sobre o tempo que lhe resta para estudar, diz que é “o fim das aulas,
basicamente”. Em termos de distinções, a sua equipa de voleibol alcançou o
honroso 1.º lugar na época de 2010-2011 e o 2.º lugar na época – 2011-2012,
depois de várias deslocações, a destacar: Lousada, Penafiel, Eiriz, Airães, Marco
de Canaveses, Baião e Felgueiras. Relativamente à posição que gosta de ocupar
em campo, refere ter preferência em começar a jogar na posição 2 – “aliás desde de que jogo esta modalidade sempre
foi a minha posição preferida”.
O trabalho de
equipa
Filipa
privilegia o trabalho de grupo, já que “sem dúvida é um trabalho de equipa,
visto que se só uma se esforçasse para tal, nunca conseguiriam ganhar”.
Salienta que é sempre bom ver reconhecido o seu trabalho: “todos são
comentários bons, agora claro, uns bons por termos feito uma boa jogada (e sabe
muito bem, ouvir sempre um elogio quando fazemos algo bem) e outros menos bons
quando falhamos e nos incentivam a continuar, pois sabem que faremos melhor de
seguida”. Em relação à marcação de pontos refere que “é bom marcá-los, sinal
que estão a fazer tudo direito e a dar razões ao treinador para se orgulhar,
dando aquele `gostinho` de marcar sempre mais, obviamente numa competição
saudável”, esclarece.
O desporto no
feminino
Filipa com as colegas de equipa DR |
Confrontada com
a ideia de que o desporto feminino ainda continua a ser pouco noticiado, a
jovem concorda: “é óbvio que desse ponto de vista somos `descriminadas`, porque
são mais vulgares jogos masculinos do que femininos. Mas não é por sermos
raparigas que possam pensar que os jogos são mais fáceis e somos frágeis…nada
disso! Somos muito fortes e por vezes melhores do que alguns, visto que não é propriamente
um desporto fácil – atirarmo-nos para o chão para ir buscar uma bola ou andar
com os braços, por vezes, doridos das jogadas que fazemos, entre outros
inconvenientes”, enumera a jovem.
Quanto
à possibilidade de vir a participar em competições com jogos mistos admite que
“gostava, e que tal como diz a Bíblia – `a mulher foi feita da costela do
homem`, não dos pés para ser pisada, nem da cabeça para ser superior. Somos
iguais e não é por julgarem que têm mais força ou algo do género, que não os
vencemos. Com esforço e dedicação tudo se consegue”.
Filipa
Monteiro defende que “todas as pessoas, sobretudo os jovens, deveriam praticar
desporto, tanto para o bem da saúde, como para diversão e abstração dos
problemas do quotidiano”.
Margarida
Teixeira: “ (…) se soubermos organizar o tempo e utiliza-lo de uma forma
correta, temos tempo para tudo.”
Margarida Teixeira 14 anos - joga voleibol |
Margarida Teixeira é colega de equipa de Filipa Monteiro. Ao contrário de Filipa, Margarida é mais ligada ao mundo dos números, estando, atualmente, na área das Ciências e Tecnologias, no ensino secundário.
Tal
como Filipa, Margarida começou a jogar voleibol aos 10 anos de idade, muito por
conta do treinador, o então diretor de turma, professor Luís Gaspar: “o voleibol desde sempre foi considerado a modalidade indicada para as pessoas de
sexo feminino, assim como, o futebol é para o sexo masculino. A escola deu-nos
essa oportunidade e tanto eu como as minhas colegas aceitamos esse desafio”.
A
disponibilidade para os treinos
Quanto à
disponibilidade para os treinos, esclarece que este ano é menor, “mas se
soubermos organizar o tempo e utiliza-lo de uma forma correta, há tempo para
tudo”.
Margarida com a equipa DR |
Em
relação à posição que gosta de ter em campo: “Pessoalmente prefiro ser distribuidora, porque é uma
posição que exige bastante experiência a nível de passes e manchetes, como de
distribuições e, eu sinto-me bastante à vontade nessa área”.
Considera
que o jogo só se faz no seio de uma equipa coesa: “acho que é um trabalho de
equipa, pois todas têm uma função específica, sendo necessária cooperação e
interajuda para podermos alcançar os nossos objetivos”. Refere que os
resultados costumam ser positivos, “no entanto, há dias menos bons, em que as
coisas não correm como esperado, mas há que seguir de cabeça erguida”, refere.
Nem
sempre os pais a podem acompanhar por motivos profissionais, “mas quando vão
sente-se mais feliz, com um pilar de apoio”.
Jogar em equipas
mistas
Confrontada
com a possibilidade de vir a integrar equipas mistas, Margarida defende que
“desde sempre os homens tiveram um papel mais importante, a vários níveis, na
nossa sociedade. Felizmente, essa realidade tem vindo a inverter-se. Nas aulas
de educação física, criamos equipas mistas e jogamos, não vendo nisso qualquer
problema”.
Ágata Aranha Diretora DD UTAD DR |
Ágata
Aranha, diretora do Departamento de Desporto da UTAD, é da opinião de que “os
jogos desportivos coletivos têm a vantagem de promover a socialização e a
cooperação (espirito de equipa). Separar os rapazes das raparigas é uma
estratégia, e não um método. Como tal, e como todas as estratégias, nem está
certa, nem errada - está (ou não) adaptada ao objetivo que se pretende. Às
vezes deve fazer-se, outras, não”, esclarece a docente.
Bárbara Neves:
“Temos que fazer o que realmente gostamos, o que os outros acham é-me
indiferente”.
Bárbara Neves 13 anos - joga futebol |
Quem já tem
imensa experiência em jogos mistos é Bárbara Neves. Com 13 anos, joga desde os
seis futebol, sendo que há ocasiões em que é a única rapariga a entrar em
campo. Agora em tempo de aulas, é em educação física que pratica a modalidade,
sendo que na época estival não perde as competições na sua freguesia.
Questionada
se não se incomodava em estar em campo apenas com rapazes, Bárbara diz que não:
“o objetivo é o mesmo: marcar golos e ganhar”.
Bárbara com os colegas de equipa DR |
Em
relação aos inconvenientes que isso pode gerar, nomeadamente não ter um
balneário exclusivo para raparigas nos jogos, a jovem refere que por vezes o
árbitro lhe despensa o seu balneário, “senão toma banha quando chega a casa”.
No
meio de uma equipa maioritariamente masculina, Bárbara não se incomoda: “felizmente,
tenho sempre recebido apoio, quer dos meus pais, familiares, quer dos restantes
membros da equipa onde jogo. Temos que fazer o que realmente gostamos, o que os
outros acham é-me indiferente”.
Será o futebol,
um mundo exclusivo dos homens?
Cláudia Lopes Jornalista TVI DR |
Cláudia Lopes, jornalista na TVI, começou a interessar-se pelo mundo do futebol, numa altura em que ainda eram poucas as mulheres jornalistas nessa área. A jornalista conta que “enquanto mulher, num universo muito masculino, teve algumas situações engraçadas e outras menos, mas genericamente sempre foi sempre muito bem tratada e aceite no meio”. O programa que apresenta na TVI 24, “Mais Futebol”, foi já por diversas vezes premiado: “sinal que reconhecem o trabalho de uma equipa”, afirma a jornalista.
Vera
Lúcia Melo é da opinião que não há modalidades exclusivas para cada um dos
géneros: “aconselho os pais que devem apoiar o/a jovem na sua decisão: se de
facto for o futebol o seu desporto preferido, então que jogue”. Mais do que
discutir se deve ou não haver divisão, a psicóloga pensa que “todos os agentes
educacionais têm responsabilidade de passar a palavra, ou seja, tanto a escola
como a família têm um importante papel na sensibilização da prática de desporto
e dos melhores hábitos alimentares”.
Ágata
Aranha corrobora as palavras de Vera Lúcia Melo: “em pedagogia do desporto,
aquilo que lecionamos aos nossos discentes, alguns futuros professores de
educação física, é que os seus futuros alunos façam desporto, não se lhe
exigindo talento, apenas queremos que gostem de o fazer. Tal como se dança numa
discoteca: uns dançam melhor do que outros, alguns até dançam bastante mal, mas
todos dançam, e todos gostam de estar a dançar”, remata a entrevistada.
Quatro jovens desportistas que contrariam assim as tendências do aumento das taxas de obesidade infantil. Futebol ou voleibol? Não existe uma prática exclusiva para rapazes ou raparigas, deverá existir sim, o compromisso na regularidade da prática de exercício físico, incutido quer pelos pais, quer pela escola, sempre com o compromisso de haver uma gestão eficaz do horário do jovem desportista: tempo para o desporto, mas também para estudar. São estes os vetores que se conjugam no bem-estar físico e psicológico dos jovens portugueses.
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