Daniela Fonseca na sua apresentação DR |
Daniela Esperança Monteiro da Fonseca nasceu em
Lamego, em 1977, fez o ensino primário em Salzedas, a escola preparatória e
secundária na EB 2+3 Professor Doutor José Leite de Vasconcelos, em Tarouca,
cursou Comunicação Social, de 1995-2000, na Universidade do Minho, Braga, e
nela concluiu também o mestrado em Jornalismo, em 2004, com a tese “A evolução
do género jornalístico”. Continua atualmente os seus estudos académicos na
Universidade da Beira Interior, sendo doutoranda em Ciências da Comunicação,
área das Relações Públicas, com a tese “O papel das novas Relações Públicas na
modernização dos sindicatos portugueses”. Em termos profissionais, realizou
alguns estágios de aprendizagem, primeiro numa agência de publicidade, McCann
Erickson Canal 1, Porto, e depois numa empresa de Software de Gestão, em Braga.
Trabalhou ainda, durante dois anos, como assessora de imprensa no STFPN
(Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública do Norte), e leciona, desde setembro
de 2007, no 1º e 2º ciclos de ensino superior, na Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro. Participou pontualmente em diferentes projetos
jornalísticos e/ou literários: primeiro, no jornal ‘Domingo Liberal’, depois no
jornal regional ‘Castelo de Lanhoso’, e num site sobre comboios portugueses ‘O
comboio em pt’, daí resultando um texto literário em edição bilingue,
portuguesa e francesa. Esteve presente em algumas palestras e congressos da
área do Jornalismo, da Publicidade, e das Relações Públicas, como participante,
oradora, moderadora, e também coorganizadora de eventos na UTAD.
Daniela Fonseca foi uma das oradoras convidadas do evento “Ser Profissional de Comunicação Além-Fronteiras: Que Desafios?”, que decorreu no auditório da Biblioteca Central da UTAD na passada quarta-feira, dia 20 de novembro, com a comunicação “Como quebrar o gelo sem quebrar o protocolo?”
A Bird Magazine esteve à conversa com a docente da academia transmontana.
Ricardo Pinto
(RP):
Como analisa a notícia do dia 18 de novembro que dá conta de que a princesa
Letizia foi fotografada ao lado de uma empregada de farmacêutica com um vestido
igual. Podemos falar de morte protocolar?
Daniela Fonseca
(DF):
Penso que, a ser verdadeira a imagem dos vestidos iguais, não sendo uma morte
protocolar, é uma verdadeira dor de cabeça para a Princesa Letizia, atendendo a
que não é de bom-tom aparecer com uma toilete igual a outra pessoa num evento
público, ainda mais se se tratar de um membro da realeza. Todavia, haverá
também aqui uma mensagem de modernidade associada às monarquias europeias. Têm
abundado, de facto, várias notícias que dão conta da compra de vestidos comuns,
em lojas onde veste a classe média. Não terá sido apenas Letizia, mas também
Kate Middleton. Mostrará, este conjunto de dados, uma nova face para a
monarquia? Uma maior proximidade para com o povo? De recordar que o protocolo
monárquico manda que alguns membros da realeza não podem ser tocados, e, não
raro, a princesa do povo, Diana aparecia em fotos de grande proximidade com os
mais desfavorecidos; também por isso terá granjeado a legião de fãs que o mundo
conhece.
Regressando
ao início, apesar de não ser uma morte protocolar, é, sem dúvida, um
acontecimento lamentável até para a mais comum das mortais, já que, no género
masculino, essa questão não é tão gravosa, nem descortinável.
RP: Afinal, o que é
o Protocolo?
DF: O Protocolo,
grosso modo, corresponde a um conjunto de regras destinadas ao bom
relacionamento entre pessoas, organizações, Estados, grupos, orientando não
apenas os eventos e/ou cerimónias públicas em que todos essas agremiações
estejam presentes, mas também a sua forma de ser e de estar. Como tive
oportunidade de dizer na conferência, há uma dimensão do conceito que é
profundamente cultural e, como tal, um pouco mais flexível; há uma outra
dimensão que é legal e que orienta os Estados, os órgãos do poder central e
local, bem como eventos que devem ser milimetricamente planeados de modo a que
nada falhe. Depois há também vários tipos de Protocolo, consoante os grupos que
estejam a ser considerados: o Protocolo de Estado diz respeito à nação e aos
poderes públicos; o Protocolo Social dispõe sobre as regras de educação e de sã
convivência entre os indivíduos; o Protocolo Multicultural refere-se às
diferentes culturas; o Protocolo Eclesiástico vai ao encontro dos cerimoniais
religiosos, e por aí adiante. Portanto, trata-se, objetivamente, de uma área de
estudos, de uma prática, de uma técnica, de uma moral sobre o que se deve fazer
para tornar mais simples o relacionamento entre os indivíduos, sejam estes
considerados individualmente ou em organizações.
RP: Desde sempre
existiu o Protocolo?
DF: Penso que sim
e, na verdade, é curioso como as grandes bíblias sobre as melhores atitudes
protocolares são muito antigas. Desde que o homem é homem que haverá nele a
necessidade de comunicação e, subtraindo à nossa era alguns milénios, é
possível encontrar na antiguidade greco-romana o nascimento da retórica e dos
grandes filósofos e pensadores. Alguns livros foram publicados sobre educação, sobre
o amor, sobre as instituições, onde vingaria uma ideia da melhor fórmula para a
melhor convivência. Noutro patamar histórico, situar-se-ão também alguns livros
que se dedicariam à vida na corte, às precedências e deferências que deveriam
ser tomadas por todos para gáudios de majestades absolutas. É, de facto,
curioso verificar ainda como Portugal terá uma história interessante também
neste capítulo, lembrando para tal as regras protocolares com que os
navegadores estrangeiros deveriam ser atendidos nos nossos portos, no reinado
de D. Manuel I; ou outras histórias de conflitos de precedência, como aquele
que passo a citar “Em 1641, no auge da Restauração da Independência portuguesa,
o Bispo de Lamego, D. Manuel de Portugal e o Marquês de los Velez, embaixador
de Espanha, protagonizaram um duelo, tendo os séquitos de ambos procedido a um
confronto em frente da Igreja de Santa Maria in via Lata, sendo este local
demasiadamente apertado para que as duas comitivas passassem ao mesmo tempo,
como nenhum dos séquitos quis ceder a precedência, o Bispo e o embaixador
espanhol lutaram na rua. Chamado a dar explicações ao Cardeal do Vaticano, o
Marquês terá referido: de que não fazia ideia de quem era o outro séquito, já
que “el bispo andaba incógnito como cuendo va a las putas”. Portanto, e sem adiantar
mais exemplos, remato esta questão, afirmando que, mais do que outras áreas, a
ancestralidade do Protocolo é profundamente visível.
RP: Numa academia
como a UTAD que recebe anualmente dezenas de alunos ERASMUS, que preocupações
devem existir por parte quer dos responsáveis institucionais, quer dos próprios professores?
DF: Numa academia
como a nossa, seria interessante criar um procedimento protocolar de receção a
estrangeiros, fossem estes estudantes Erasmus, ou docentes em conferência. Não
posso dizer que tal não exista já; mas, de facto, a existir, que tivesse,
então, maior divulgação entre a comunidade.
Recebemos
alunos da Turquia, alguns deles islâmicos, outros cristãos, e talvez fosse
interessante saber um pouco mais sobre as suas culturas para melhor podermos
dialogar, interagir. Também recebemos alunos da República Checa; e os tão famosos
quartos-de-hora académicos, para eles, são horríveis, dada a sua reconhecida
pontualidade.
Muito bem :)
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