quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O SONHO EUROPEU ESTARÁ A DESMORONAR-SE?

Nuno Meireles
DR
Após a Segunda Grande Guerra Mundial, e evitar uma terceira, seis países europeus deram início ao projeto de uma Europa unida com a criação da CECA – Comunidade Europeia do Carvão e Aço. O sonho europeu dava assim os seus primeiros passos para um futuro que parecia promissor.
A integração europeia foi crescendo de tal ordem que foi necessário abranger novas áreas ligadas à economia. Foi assim que a CEE – Comunidade Económica Europeia surgiu.
O projeto europeu assentava em vários e importantes pilares para uma sociedade mais digna. Entre esses pilares destaco a paz, a solidariedade e igualdade entre todos os cidadãos europeus. Se esta ideia fosse realmente posta em prática, tenho a certeza que viveríamos na melhor zona do mundo.
Sinceramente, estou muito cético em relação ao futuro de uma Europa unida e igualitária entre todos os seus estados membros. O caminho escolhido por alguns dos políticos europeus a partir de uma determinada altura, fugindo à ideia inicial, tem provocado fraturas estruturantes que podem levar à derrocada geral do sonho europeu.
A crise financeira que se assolou de forma generalizada por esta Europa fora, tem posto a nu as fragilidades provocadas pela má condução dos destinos da União.
Políticas erradas, muito mais direcionadas para a parte económica do que para a parte social e humana, estão a provocar uma crise ainda mais grave e com resultados mais destrutivos que a “financeira”.
Apesar de (teimosamente) serem ignorados, os sinais estão aí à vista de todos. São eles: o aumento da pobreza e desigualdades sociais nos países periféricos; o aumento da contestação em quase todos os países europeus e que se vem traduzindo num crescente da violência; o aumento da popularidade de partidos extremistas (com maior incidência da extrema direita mas os da esquerda também estão a crescer); a queda da credibilidade dos agentes políticos da ala mais moderada; entre muito outros sinais preocupantes.
Diz a história que a Europa se começou a unir para evitar uma nova guerra. A ideia era a de que se os velhos inimigos se juntassem e dessem as mãos, não haveria mais conflitos (principalmente económicos). Mas eu deixo uma questão: quem esteve sempre na origem das duas grandes guerras mundiais? A Alemanha! Na primeira porque decidiu assassinar um príncipe de um país vizinho; na segunda porque erraram ao eleger um maníaco para Chanceler, maníaco esse que decidiu invadir países soberanos só porque queria criar um império. Como se isso não bastasse, foi o promotor do maior genocídio de que há memória.
É claro que perante tamanhas barbaridades, a comunidade internacional caiu-lhe em cima, pondo o país praticamente a pão e água. Foram também condenados a pagar os imensos prejuízos provocados pelas guerras. Acontece que como a Alemanha estava na miséria, foi-lhes decretado o perdão total da divida. Assim, o país podia sarar as feridas e recompor-se.
Ironicamente, é esse mesmo país – agora a potência maior europeia – que comanda de novo os destinos da Europa, que dita e impõe as regras. Muita da austeridade que países como Portugal, Grécia, Chipre, Irlanda, Espanha, estão a aplicar é exigida pela Alemanha. Todos nós sabemos o que tem implicado essa austeridade. E mesmo sabendo que está a matar aos poucos os cidadãos dos países resgatados, a Alemanha não abdica de impor as regras do jogo. É certo que se as dividas forem todas pagas, ganhará milhões em juros.
Esquece-se que outrora também foi perdoada pelos seus parceiros europeus, esquece-se que antes da crise de divida soberana vendeu muitos automóveis, eletrodomésticos e outros produtos aos países agora aflitos, esquece-se que as suas multinacionais de distribuição moderna se proliferaram por esta Europa fora ganhando rios de dinheiro.
É uma Alemanha injusta, cruel, calculista e egoísta que comanda os destinos da União Europeia. Mais irritante é ver que não há nenhum outro país que lhe faça frente.
Se houver um novo conflito no velho continente, já sabemos quem vai ser o responsável.

Pessoalmente, não acredito numa Europa unida e a puxar todos para o mesmo lado se o caminho escolhido for o atual.

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