Nuno Meireles DR |
Após a Segunda
Grande Guerra Mundial, e evitar uma terceira, seis países europeus deram início
ao projeto de uma Europa unida com a criação da CECA – Comunidade Europeia do
Carvão e Aço. O sonho europeu dava assim os seus primeiros passos para um
futuro que parecia promissor.
A integração
europeia foi crescendo de tal ordem que foi necessário abranger novas áreas ligadas
à economia. Foi assim que a CEE – Comunidade Económica Europeia surgiu.
O projeto
europeu assentava em vários e importantes pilares para uma sociedade mais
digna. Entre esses pilares destaco a paz, a solidariedade e igualdade entre
todos os cidadãos europeus. Se esta ideia fosse realmente posta em prática,
tenho a certeza que viveríamos na melhor zona do mundo.
Sinceramente,
estou muito cético em relação ao futuro de uma Europa unida e igualitária entre
todos os seus estados membros. O caminho escolhido por alguns dos políticos
europeus a partir de uma determinada altura, fugindo à ideia inicial, tem provocado
fraturas estruturantes que podem levar à derrocada geral do sonho europeu.
A crise
financeira que se assolou de forma generalizada por esta Europa fora, tem posto
a nu as fragilidades provocadas pela má condução dos destinos da União.
Políticas erradas,
muito mais direcionadas para a parte económica do que para a parte social e
humana, estão a provocar uma crise ainda mais grave e com resultados mais
destrutivos que a “financeira”.
Apesar de
(teimosamente) serem ignorados, os sinais estão aí à vista de todos. São eles:
o aumento da pobreza e desigualdades sociais nos países periféricos; o aumento
da contestação em quase todos os países europeus e que se vem traduzindo num
crescente da violência; o aumento da popularidade de partidos extremistas (com
maior incidência da extrema direita mas os da esquerda também estão a crescer);
a queda da credibilidade dos agentes políticos da ala mais moderada; entre
muito outros sinais preocupantes.
Diz a história
que a Europa se começou a unir para evitar uma nova guerra. A ideia era a de
que se os velhos inimigos se juntassem e dessem as mãos, não haveria mais
conflitos (principalmente económicos). Mas eu deixo uma questão: quem esteve
sempre na origem das duas grandes guerras mundiais? A Alemanha! Na primeira porque
decidiu assassinar um príncipe de um país vizinho; na segunda porque erraram ao
eleger um maníaco para Chanceler, maníaco esse que decidiu invadir países
soberanos só porque queria criar um império. Como se isso não bastasse, foi o
promotor do maior genocídio de que há memória.
É claro que
perante tamanhas barbaridades, a comunidade internacional caiu-lhe em cima, pondo
o país praticamente a pão e água. Foram também condenados a pagar os imensos prejuízos
provocados pelas guerras. Acontece que como a Alemanha estava na miséria,
foi-lhes decretado o perdão total da divida. Assim, o país podia sarar as
feridas e recompor-se.
Ironicamente,
é esse mesmo país – agora a potência maior europeia – que comanda de novo os
destinos da Europa, que dita e impõe as regras. Muita da austeridade que países
como Portugal, Grécia, Chipre, Irlanda, Espanha, estão a aplicar é exigida pela
Alemanha. Todos nós sabemos o que tem implicado essa austeridade. E mesmo
sabendo que está a matar aos poucos os cidadãos dos países resgatados, a
Alemanha não abdica de impor as regras do jogo. É certo que se as dividas forem
todas pagas, ganhará milhões em juros.
Esquece-se que
outrora também foi perdoada pelos seus parceiros europeus, esquece-se que antes
da crise de divida soberana vendeu muitos automóveis, eletrodomésticos e outros
produtos aos países agora aflitos, esquece-se que as suas multinacionais de
distribuição moderna se proliferaram por esta Europa fora ganhando rios de
dinheiro.
É uma Alemanha
injusta, cruel, calculista e egoísta que comanda os destinos da União Europeia.
Mais irritante é ver que não há nenhum outro país que lhe faça frente.
Se houver um
novo conflito no velho continente, já sabemos quem vai ser o responsável.
Pessoalmente,
não acredito numa Europa unida e a puxar todos para o mesmo lado se o caminho
escolhido for o atual.
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