Anabela Borges DR |
Um
sopro gélido anuncia o mês de Novembro, tempo para não esquecer.
A
terra renova-se por dentro, revolvendo as entranhas, à medida que prepara os
condimentos férteis que hão-de alimentar a fome dos vivos. O chão cobre-se de
tapetes de coisas que já foram matéria viva, uma ou outra folha tentando ainda
uma dança perdida ao sabor do vento, e o ar ganha o cheiro reforçado a terra
molhada. Novembro é o mês da renovação, ciclo de vida, altura em que o Outono
atinge o seu auge, os pássaros recolhem e os rios se vão fazendo misteriosos,
envoltos na bruma dos dias.
Por
vezes, em Novembro, invade-nos uma nostalgia que nada mais nos deixa que não
seja frio e vazio.
Eu
cá sempre achei o mês de Novembro o mais triste do calendário e, se querem
saber, nunca soube muito bem explicar porquê. No fim de contas, talvez Novembro
nos venha lembrar que é o mês da verdade.
Mas
o tempo, esse ser enganoso, arrasta as pessoas como num encantamento, entretidas
com o futebol, as aldrabices jornalísticas de garantir audiências, a política
de faz-de-conta que em tudo ilude e engana, os programas televisivos mais
deploráveis, degradantes e sujos que alguém poderia inventar – antes do jantar,
depois do jantar, ao fim-de-semana, todos os dias. Na verdade, são crianças e
famílias inteiras suspensas no tempo, a assistir. Na verdade, a qualquer hora: na
hora em que as crianças regressam da escola, na hora em que devem escovar os
dentes, na hora em que devem estudar e ir para a cama com um livro para ler.
Mas,
assim mesmo, Novembro acorda-nos para realidades cruas que não queríamos ver. É
mês para não esquecer: mês de Santos e de Finados; mês de lembrar o massacre em
Dili, nossa Timor, que já leva vinte e dois anos sobre o horror que a assolou.
Eu
também tenho as minhas coisas para não esquecer em Novembro. Infelizmente,
direi. E aquilo que mais me marcou, nesta semana, foi
a passagem, rude, trágica e intempestiva, do tufão Haiyan, nas
Filipinas. Tão cedo, o tempo não apagará o opróbrio, as horas dramáticas, a
destruição, destroços do mais potente de todos os poderes – o da Natureza. A
Natureza semeia horrores para lembrar aos Homens como são pequeninos, para
abanar as suas vidas e lhes retirar os entes mais queridos, a comida e a
bebida, o tecto, a dignidade. Às vezes, calha de a Natureza fazer isso em
Novembro.
E, em cima do
auge da tempestade, do barulho ensurdecedor do vento, dos gritos que se ouviram,
últimos no mundo dos vivos, ainda assim, sempre alguma voz se levanta dos escombros
e diz: “Estou vivo”.
E, dentre esses
vivos, cada um segue com a sua história para contar, com uma vida virada do
avesso, cheia de dor e obstáculos, para reconstruir.
Sim Anabela... também tive sempre a sensação de que o mês de Novembro tem algo de negativo associado, apesar de eu não ser dado a superstições...
ResponderEliminarBeijo!
Não será bem superstição, A.S. Pronto, não sei explicar... é um mês de que gosto menos :)
EliminarANABELA BORGES
A escritora Anabela Borges tem a arte de colocar a poesia dentro da prosa, a literatura dentro da opinião. Um prazer para quem ama as palavras e as ideias.
ResponderEliminarMuito grata, Gabriel Vilas Boas, pelas palavras que me deixa.
EliminarANABELA BORGES
yo diria que noviembre no tiene nada negativo, es calido, tiene flores y pajaros es muy bello
ResponderEliminarnoviembre es un mes muy bello , aqui en argentinan , tuiene flores, pajaros arboles con sus brotes nuevos y no te olvoides es SAGITARIO y loa sagitarianos somos personas muy fuertes , damos todo, pero queremos saber y por eso estudiamos. no mentimos, queremos embellecer el mundo y eso es muy dificil
ResponderEliminarya hice mi comentario 2 veces
ResponderEliminarOlá, Carolina Gonzalez. Espero que te encontres bem. Sabes, aqui é Outono e começa a ficar muito frio. Um abraço para a Argentina.
EliminarANABELA BORGES