"Sem esta terra funda e fundo rio,
Que ergue as asas e sobe, em
claro voo;
Sem estes ermos montes e
arvoredos,
Eu não era o que sou."
Teixeira
de Pascoaes, em “Canção duma Sombra” (excerto).
MOSTEIRO DE S. GONÇALO, AMARANTE ANABELA MAGALHÃES |
ANABELA BORGES DR |
Sou amarantina de gema, o que me enche de orgulho.
Berço de ilustres figuras em diversas áreas da cultura (e não só), como Amadeo de Souza-Cardoso, Pascoaes e Agustina (apenas para nomear alguns), a terra que me viu nascer é linda e verdadeiramente adorável.
Tenho, naquilo que escrevo, grandes influências do património cultural regional. É algo que está em mim e não consigo evitar, claramente visível, por exemplo, no conto “A Tundra”, já que tudo gira tudo em torno da vida das extintas fábricas da Tabopan, desde os anos 70 até à atualidade, com muitos registos de linguagem e modos de vida típicos da região. Tenho em Agustina e em Pascoaes um imenso orgulho, e noutras figuras de vulto, como Amadeo de Souza-Cardoso, porque a pintura é outra das minhas paixões. Vou buscar muitas recordações à infância, a histórias que vivi e ouvi contar. Amarante oferece-me um património riquíssimo, que eu adoro evocar e explorar.
Quando digo a alguém que sou de Amarante, as pessoas têm sempre uma referência da cidade: ou é pelos ilustres nas mais diversas áreas, ou pelos monumentos, pelo rio, pela gastronomia, pelo turismo, enfim pela História e a Cultura em geral. A minha honra de ser amarantina cresce sempre um pouco mais dentro de mim. Amarante constitui uma fonte de inspiração permanente, com as brumas, as sombras do Pascoaes, o frio, o calor, o rio que vai na sua caminhada incessante, solitário no Inverno e carregado do colorido dos barcos no Verão. O amanhecer e o entardecer neste fundo vale rodeado de serras é uma luminosidade vasta e silenciosa que acolhe a Natureza no seu estado mais puro. E isso sente-se com palavras inefáveis a bulir no peito. Creio que todo o amarantino o sente.
Estar face à escrita é, para mim, estar perante um constante desafio, como estar rodeada de folhas brancas de papel com necessidade de preenchê-las para não sufocar nas palavras.
Não sou muito de falar. Sou mais de escrever. Sou reservada, até nas opiniões, não sou propriamente pessoa de dar opinião sobre tudo e sobre nada. No entanto, quando me sinto indignada, ou quando penso que a minha opinião pode ajudar em alguma coisa, ou me sinto “na obrigação”, eu manifesto-me.
Escrevo muito em cadernos, à mão. E não seria a mesma pessoa se não o fizesse. Escrevo, rabisco, rasuro e faço uma ou outra ilustração.
Escrever faz-me bem. É uma necessidade intrínseca de comunicar, nem que seja apenas comigo. Na verdade, em primeira análise, é sempre comigo que comunico quando escrevo e só depois decido se partilho com os outros e o que quero partilhar. É verdade que a escrita é aquele acto solitário, mas não é isolado do mundo, porque, ao escrever, analiso o que me rodeia e revejo a minha forma de estar. Pode ser uma visão muito à minha maneira, mas é a forma como me encaixo, como encontro o meu lugar e me relaciono com o que, de uma forma ou de outra, me afecta, no sentido de compor uma espécie de harmonia que me ajude a estar bem também com os outros. Se muitas vezes se afirma que temos de estar bem connosco para estarmos bem com os outros, o contrário é para mim de igual importância, não me ocorrendo estar bem comigo se não estiver bem pelo menos com aqueles que mais directamente dependem de mim. Será, portanto, uma retórica redundante, numa relação de clara reciprocidade.
Se existe alguma coisa que me inspire, então esse algo estará no âmago da condição humana, no frágil, no sofrido, no impotente, em contraponto com a beleza, o horrível e o poder da Natureza.
A Natureza é o maior de todos os poderes. Gaia, ou Gea, será sempre para mim a deusa primordial, a primeira deusa adorada – no seu âmago: Terra.
A Natureza sempre se encarrega de corrigir os excessos humanos, muitas das vezes por meio da destruição, de uma forma cruel e imbatível. Isso lembra-me como sou pequenina e indefesa e espero que faça de mim uma pessoa mais tolerante e humilde.
A minha alegria suave de viver reside nas coisas simples e encantadoras que todos os dias me disponho a descobrir.
Ser Amarantina é uma condição e uma honra. Belo texto, Anabela Borges!
ResponderEliminarRicardo, não te importas de retirar o DR antes do meu nome, na fotografia? É que eu gosto de assinar simplesmente com o meu nome, sem títulos, ok?
Beijocas aos dois!