GABRIEL VILAS BOAS DR |
Por estes dias milhões de estudantes regressam à Escola. Quase toda a sociedade portuguesa espera ansiosamente por este momento para retomar a sua rotina. Pais, avós, professores, políticos, televisões… aguardam o regresso do ritmo da escola para recuperar a sua vida.
Teremos o discurso do ministro a dizer que tudo vai bem no reino da Educação, os professores a desmentir o governo, os pais a fazerem contas ao dinheiro despendido em manuais escolares, os avós aliviados da irrequietude dos netos ou com saudades da sua partida, as televisões a debitarem os clássicos debates sobre o futuro da Educação em Portugal, pois julgam ser esse o seu desígnio.
O que pensará uma criança ou um adolescente disto? Muitos de nós não querem saber ou nem se questionam. Mas a verdade é que eles reparam na retórica balofa do ministério, no cansaço desalentado dos professores, na falta de sinceridade dos debates televisivos, no queixume permanente dos pais com o investimento na sua educação. Eles pressentem que para uns são um número, para outros, um fardo. Treinados desde o infantário em horários de 40 horas semanais, perceberam há muito a inutilidade de qualquer lamúria.
Mas um dia destes, um miúdo qualquer ganhará coragem, olhar-lhos-á profundamente e perguntará: Não era suposto que a escola me fizesse feliz? Por que não me faz?
O pai sempre pode mandar perguntar ao professor, que ficará sem resposta ou com ela entalada algures entre o desencanto e a culpa, que obviamente não é só dele, mas também é dele.
Gente triste e desiludida dificilmente cria energia positiva em seu redor. Investir na desmotivação dos professores é altamente perigoso, porque eles têm nas mãos a formação das próximas gerações. Adiantará muito pouco que os alunos acumulem conhecimentos, competências, técnicas, se isso tudo não os tornar felizes.
Eu sei que muitos estão no limite da crença, sem paciência para promessas por cumprir, sem tempo para retóricas sem sentido, cansados de acumular o trabalho de mais um que foi para a reforma e, sobretudo, fartinhos da desconsideração de quem manda. Todavia, os jovens que estão à nossa frente pouca culpa têm disso. Os seus olhos tristes pedem-nos que resgatemos a convicção perdida e procuremos no baú da memória o fogo da paixão que nos atou à profissão.
Como diria Pedro Abrunhosa, talvez seja o “tempo de arranjar 20 segundos de coragem, de passar o rio a vau, mudar o rumo à viagem”, porque este não é só o tempo deles, também é o nosso.
Eles precisam de ser felizes… e nós também!
Sim, precisamos todos...
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