Leonor é um nome muito bonito. Lembra-me sempre realeza, distinção, sobriedade. A última Leonor que conheci acrescenta-lhe uma qualidade rara nos tempos modernos: bondade.
Ontem, Ricardo sugeriu-me que hoje escrevesse sobre uma Leonor que não conheço – a Princesa Nonô – que um anjo mau levou para um reino distante.
PRINCESA LEONOR DR |
GABRIEL VILAS BOAS DR |
Durante um ano, ela lutou com uma força de guerreira pelo reino de amor que os pais lhe construíram. Enfrentou, com um sorriso profundo e bondoso, um inimigo – o cancro – que devia ter vergonha de aparecer a gente tão pura como a Nonô.
Os pais, cujo nome desconheço, mas que são pais como eu e muitos de nós, dizem que ela os ensinou a sorrir e a aceitar. “Aceitar” é uma palavra que não cabe no dicionário de uma criança, a não ser que ela seja sábia e possua uma alma tão grande que nos peça para trocar lágrimas por sorrisos.
Certo dia, o poeta Drummond de Andrade expressou o desejo de ser rei, com o único fito de decretar a imortalidade da Mãe. Para os pais, a imortalidade dos filhos é uma lei sagrada que os seus corações escreveram quando eles ainda eram embrião. Por muito que o mundo seja injusto e mau ou que o destino seja cruel, não há nenhum “mas” nessa lei.
Sabes, Nonô, acho muito difícil cumprir o pedido que nos fazes: sorrir e aceitar. Não temos a tua sabedoria nem a tua grandeza. Aceitar é compreender e perdoar. E eu não vejo como um pai possa perdoar uma coisa destas à vida. Aceitar é recomeçar e eu não sei como se recomeça quando nem sequer há cacos para colar.
Não sei se percebeste bem, querida Leonor: roubaram o coração aos teus pais, mas deixaram-nos vivos. E pior do que isso, roubaram-te! Proibiram-te de tomares posse dum reino maravilhoso que se chama Vida. É, de facto, maravilhoso, mas tem sítios e horas tão escuras e feias que nos fazem desejar perder a memória.
Talvez um dia destes a vida tente redimir-se e ofereça aos teus pais um anjo de carne e osso. Provavelmente fá-lo-á imortal, como é normal entre as crianças, e talvez lhes arranque sorrisos que agora nos pedes e não conseguimos dar. Mas serão sorrisos com um “Todavia” que és tu!
Sabes, Leonor, o teu nome só devia rimar com Amor, mas hoje, ele só transpira Dor.
Hoje gostei especialmente de te ler. Pedimos partidas por ordem cronológica sff... e mesmo assim... que dor.
ResponderEliminarBeijos.