domingo, 28 de setembro de 2014

«NÃO TENHO TEMPO!»

JORGE ALMEIDA
DR
“Não tenho tempo!” “Não tenho tempo!” - Dizemos nós muitas vezes. Quando nascemos, recebemos o maravilhoso presente oferecido pelos nossos pais que é a vida acondicionada no papel de embrulho chamado tempo. 

Desde a primeira respiração, vamos abrindo o embrulho, rasgando o papel para libertarmos a vida. Logo que a vida começa a sair do embrulho, como se fosse um pintainho a sair do ovo, não poderemos voltar a embrulhar a vida nem recuperar o tempo rasgado, tal como não poderemos voltar a colocar pasta de dentes na embalagem que a conteve. 

Assim, a vida vai consumindo o tempo à medida que se liberta, como se a vida fosse a chama e o tempo uma vela de cera que se vai esgotando: quando a vela desaparecer, levará a chama consigo. O que temos de fazer é conseguir que a nossa chama brilhe e ilumine o caminho de alguém, enquanto está acesa. “Não tenho tempo!” – repetimos nós, como desculpa para o que não queremos fazer (e temos direito de o dizer), pois o tempo é demasiado precioso para o desperdiçarmos com o que não queremos fazer. 

Cada momento nos é dado apenas uma vez, se não o aproveitarmos, ele foge-nos por entre os dedos e será um momento perdido. Quando deixamos uma luz acesa num quarto vazio, estamos a desperdiçar eletricidade, que comparada com o preço do tempo é muito barata.

 Todos nós já desperdiçámos momentos, porque tivemos de fazer algo que detestávamos. Seria por dever, para cumprir uma norma social ou simplesmente por não termos nada melhor para fazer… Qualquer que tenha sido o motivo, o tempo que gastámos foi consumido e não nos será devolvido. 

Todos nós também já tivemos momentos que gostaríamos de voltar a viver. São esses os momentos que valeram a pena terem sido vividos e em que o tempo foi aproveitado. Um dia, olhando para o presente oferecido à nascença, já quase sem papel de embrulho, saberemos se o presente foi bom e se terá valido a pena pela quantidade e qualidade desses momentos.

 “Não tenho tempo!” – diremos um dia e isso será de facto uma verdade cruel e indesmentível.

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