quinta-feira, 11 de setembro de 2014

MEMORIAL

ANABELA BORGES
DR
Como o próprio nome indica, um MEMORIAL é uma chamada de atenção para a memória de alguma coisa. Geralmente, é criado um memorial sobre a memória de uma pessoa que tenha morrido em circunstâncias heroicas ou imprevisíveis, mas também se criam memoriais alusivos a eventos de grande dimensão, que tenham representado um impacto positivo ou negativo na sociedade.
Eu sempre gostei da palavra “memorial”: é uma palavra que acorda, não adormece; é uma palavra que lembra, não esquece. A palavra memorial abraça, amortece. Mas pode ser também uma palavra que arrefece, a fazer lembrar as agruras, o terror, a maldade, a imprevisibilidade, a fragilidade, a frugalidade.

A palavra “memorial” transporta a ideia cristalina de memória:
que traz à memória;
lembrança;
homenagem;
intemporal;
espécie de luz que nunca se apaga.

As formas usuais de memoriais incluem objectos de referência, ou objectos de arte, como esculturas, estátuas ou fontes, e há memoriais que são monumentos, praças ou parques inteiros. Entre os mais comuns memoriais estão as lápides ou as placas de homenagem, assim como os memoriais de guerra, glorificando os que morreram em combate, como é  caso do famoso “soldado desconhecido” espalhado um pouco por todo o mundo.
Hoje em dia, começa a ser comum, na realidade paralela que caminha connosco o esplendor e o sensabor dos dias, encontrar memoriais online, quer em alusões por meio de imagens, fotografias e símbolos, quer na forma de textos, permitindo à família e aos amigos, ou às pessoas anónimas, interagir e partilhar as memórias referentes àquele ser ou acontecimento.
Plantar uma árvore em memória de alguém, como a singela oliveira do Saramago, é também um memorial. E, em certos lugares do mundo, quando morre um estudante, os seus memoriais podem ser revertidos na forma de uma bolsa de estudos, a ser concedida a alunos com bom desempenho nos anos seguintes. Há, por isso, memoriais de vários géneros e feitios espalhados pelo mundo.
  
DR
É claro que todo este andamento em torno da palavra memorial achegou-se-me à ideia por casa do fatídico 11 de Setembro, que é hoje, o hoje de há 13 anos.
O National September 11 Memorial & Museum, também conhecido como “9/11 Memorial Museum”, é um memorial megalómano construído em homenagem às vítimas do maior atentado terrorista de que há memória. O colapso do World Trade Center deixou um eco de indignação, um rumor do tamanho do mundo, um grito impossível de conter. Uma cicatriz gigante. E vazio. Ponto zero – groud zero. Construído com fragmentos do que sobrou, este memorial relembra o que (lá está, em jeito de contradição com o tema desta modesta reflexão, mas por razões obvias) não gostaria de estar aqui a evocar: as últimas mensagens de voz das vítimas, fotografias variadas, o som das sirenes dos bombeiros; sapatos cobertos de pó dos que se escoaram naquele abismo. Há-de ser arrepiante, pelo que representa mas também pelo que foi criado em cima dessa(s) horrenda(s) memórias, um memorial gigantesco, como (quase) tudo o que os norte-americanos fazem.

Falando em memoriais, vem-me sempre à memória um que, pela sua simplicidade e simbologia, me deixa
DR
com a lágrima ao canto do olho. Em Budapeste, na margem do Rio Danúbio, junto ao Parlamento, uma fila de sapatos abandonados. Os sapatos são feitos de bronze e os seus donos nunca voltarão. Trata-se de um memorial em homenagem aos judeus húngaros executados pelo governo fascista durante a II Guerra Mundial. Alinhados na margem do Danúbio, opositores ao governo e suas famílias foram executados e os seus corpos atirados ao rio. Antes, porém, os seus algozes tiraram-lhes os sapatos, que eram um bem escasso e caro na época.

Memoriais – apelos à memória – para não esquecer: a representação de um sistema supostamente ordenado que, por algum motivo, perdeu o contacto com a razão natural e humana.


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