GABRIEL VILAS BOAS |
Os portugueses andam tristes e com razão para tal. Ultimamente sucedem-se as notícias que nos apoucam e nos envergonham.
Já não bastava a agonizante crise económica, que suportamos estoicamente há bem mais de quatro anos, que nos roubou a juventude, destruiu a classe média e pôs 20% da população no limiar da pobreza além nos tirar a esperança dum futuro risonho, temos agora o desfilar de casos políticos e económicos que nos derrubam psicologicamente, porque atingem aqueles que escolhemos para nos governar na última década.
Depois de descobrirmos toda a vigarice que envolveu o BES, depois de Sócrates ter bebida a cicuta anunciada, estrebuchando por tudo o que era jornal e televisão, temos agora o caso do primeiro-ministro que não pagou, em devido tempo, os devidos descontos para a segurança social.
Impressiona a esfarrapada desculpa que deu, pois ela traduz uma maneira de pensar que temos de repudiar. Não é preciso ser perfeito para saber que se deve fazer os obrigatórios descontos para a segurança social. É um insulto à inteligência dos portugueses, Passos Coelho referir que “não tinha consciência da obrigação” de pagar os descontos à segurança social.
Além de enriquecer o anedotário nacional, Passos Coelho acha que só deve pagar aquilo que está obrigado por lei, se a segurança social ou o fisco o intimar para tal. O primeiro-ministro de Portugal acha perfeitamente normal um cidadão fazer-se de esquecido e não satisfazer a sua obrigação legal perante o Estado. A pessoa que nos governa teve a distinta lata de se isentar de culpa, porque a segurança social se esqueceu de o obrigar a pagar em tempo útil.
A mim parece-me claro que Passos Coelho sempre teve consciência da sua dívida e que, apesar de ser relativamente insignificante, resolveu voluntariamente não a pagar, porque sabia que tinha prescrito. Todos percebemos o sentido ético e moral do nosso primeiro-ministro, a sua dimensão de estadista e de guardião dos valores que devem nortear quem exerce um dos mais altos cargos da nação.
Nem mesmo ter chegado a primeiro-ministro o fez temer quanto à vergonha da sua falha, pois deve ter pensado há boa maneira socrática “eles não tem coragem de me atacar dado o cargo que desempenho”.
Lamento imenso que Pedro Passos Coelho, com cinquenta anos de idade, não tenha vergonha pelo que fez, não tenha sabido ser plenamente digno da confiança que o povo lhe deu nas eleições e nos envergonhe, com ações e desculpas indignas dum líder de governo.
Ser um estadista não está ao alcance de qualquer um, mas os portugueses têm tido manifesta infelicidade com os governantes que escolheram nos últimos anos. Eles não têm sido dignos do povo que representam. Envergonham-nos exteriormente, desgovernam-nos internamente, deixando por resolver todo o tipo de problemas: na educação, na saúde, na justiça, na economia, nas finanças. Não há área sensível em que possamos estar satisfeitos com a atuação de quem nos governa. No entanto, não há nada pior que ter um ex-primeiro ministro preso, por suspeitas de corrupção, e um atual primeiro-ministro a admitir como normal não ter pago os devidos descontos para a segurança social.
Importa-me pouco se um é encarado como larápio encartado e sabido e outro como um ladraozeco de trazer por casa. Revolta-me o mau exemplo e a má imagem que deram de Portugal. Deviam ter entusiasmado o país com o seu esforço, com a sua conduta e com o seu exemplo, mas apenas levaram a cabo a destruição do esforço coletivo com atos lamentáveis.
Passos Coelho quis as eleições em Outubro, optando por governar até ao último dia. Talvez lamente essa opção, porque, apesar do tempo de Quaresma terminar na Páscoa, para o senhor Passos Coelho vai durar até ao outono. Talvez a cicuta seja para beber a dois!
E a Procissão do (s) Passos ainda não saiu do adro...
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