segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

MINHA QUERIDA AVÓ

Minha querida avó,

Espero que esta carta te vá encontrar no Reino dos Céus, onde sei que estás a olhar por todos nós. A morte, esse grande mistério que continua a dominar as nossas vidas, onde ficamos sem chão quando vemos partir alguém que esteve toda a vida ao nosso lado, continua a traduzir-se numa dor inexplicável, onde só quem a sente a consegue descrever.  
Toda a gente te recorda com saudade e carinho, mesmo muito, tu sabes. Não poderia deixar de transcrever um comentário postado no facebook, da autoria do Júlio Soares, remetido ao teu neto Francisco:

“Oi. Estive há pouco a falar com o meu pai e ele contou-me que a tua avó partiu..... Sei exatamente aquilo que estás a sentir neste momento....... Nunca me hei de esquecer dela porque para mim ela era como uma segunda avó, aquela que quando eu era pequeno, ao ir da escola para casa, estava sempre à minha espera para me dar pão ou bolachas, pois segundo ela, uma vez que o caminho até casa era longo, tinha que me dar sempre algo para comer pelo caminho..... Era uma pessoa pequena de tamanho, mas com um coração enorme!!!!! Que descanse em paz..... Um abraço!”

Estas palavras enchem-me de orgulho, ao saber que com pouco fazias tanto e tão bem a tanta gente, marcando gerações. Ao longo de anos trabalhaste dias a fio, bem me lembro das estórias que me contavas, dos púcaros de barro que acartavas à cabeça e levavas a pé para Vila Meã e outros locais. Dos dias em que te levantavas às 6 horas da manhã e ias a pé, num caminho sem luzes, para a missa onde não faltavas. Eras conhecida como a Adelaide dos beijinhos, pois gostavas de cumprimentar toda a gente, exaltando toda a tua simpatia e simplicidade.

Foste uma guerreira: aos 88 anos és internada pela primeira vez com uma grave pneumonia e aí quase te vi partir. Bem me recordo do médico me olhar e me dizer para “me ir preparando”. Resististe e conseguiste lutar. Festejamos os teus 90 anos, reunindo toda a família ao teu redor. Meses depois voltarias ao hospital, desta vez ao S. João, onde, uma vez mais, nos prepararam para a tua partida, mas novamente mostraste que enquanto há vida há esperança e voltaste a tua casa, para junto de nós. 24 de Setembro de 2014, completavas os teus 91 anos. Pouco tempo depois, voltarias ao hospital por duas vezes e, nessas duas vezes, regressarias à tua casa que tanto estimavas.

31 de Dezembro de 2014, uma manhã agitada para ti e, novamente, ias ao hospital. Na sala de espera aguardava notícias tuas, até que a médica assistente me disse que poderia vir para casa pois irias ser internada. Irias passar o ano num quarto de hospital, longe da tua família. Aquela noite teve um sabor amargo, faltavas tu para celebrar connosco a passagem do ano. No dia seguinte, lá estávamos a ver-te. Foram 22 dias de idas e voltas do hospital.

Dia 22 de janeiro de 2015, 10 horas, o meu telemóvel toca, mesmo sem atender senti: chegava a triste notícia, acabavas de falecer... Tudo desabou, os pensamentos esvoaçaram pela cabeça e dezenas de recordações apoderaram-se do meu cérebro.
Partiste fisicamente, mas eternamente ficarás nos nossos corações, nas nossas memórias. Um passado recheado de boas lembranças, de bons sentimentos, que enchem de orgulho os nossos corações.

Não poderia deixar de agradecer a uma pessoa que foi mais que uma médica internista, que sempre esteve presente para nos dar informações, sempre se mostrou disponível. Afinal, o SNS não é só coisas ruins e, a Doutora Helena Almeida Fernandes é exemplo vivo disso, de uma humanidade gigante. A ela e a todos os profissionais de saúde um bem-haja.  

Despeço-me em palavras, pois no meu coração estás mais viva do que nunca. E porque a Vida é uma Roda Gigante, cá continuaremos a perpetuar a tua Memória, até ao dia em que nos voltaremos a encontrar.
Despeço-me, com um até já.
Descansa em paz, minha querida avozinha.

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