Minha
querida avó,
Espero
que esta carta te vá encontrar no Reino dos Céus, onde sei que estás a olhar
por todos nós. A morte, esse grande mistério que continua a dominar as nossas
vidas, onde ficamos sem chão quando vemos partir alguém que esteve toda a vida
ao nosso lado, continua a traduzir-se numa dor inexplicável, onde só quem a
sente a consegue descrever.
Toda
a gente te recorda com saudade e carinho, mesmo muito, tu sabes. Não poderia
deixar de transcrever um comentário postado no facebook, da autoria do Júlio Soares,
remetido ao teu neto Francisco:
“Oi.
Estive há pouco a falar com o meu pai e ele contou-me que a tua avó partiu.....
Sei exatamente aquilo que estás a sentir neste momento....... Nunca me hei de
esquecer dela porque para mim ela era como uma segunda avó, aquela que quando
eu era pequeno, ao ir da escola para casa, estava sempre à minha espera para me
dar pão ou bolachas, pois segundo ela, uma vez que o caminho até casa era
longo, tinha que me dar sempre algo para comer pelo caminho..... Era uma pessoa
pequena de tamanho, mas com um coração enorme!!!!! Que descanse em paz..... Um
abraço!”
Estas
palavras enchem-me de orgulho, ao saber que com pouco fazias tanto e tão bem a
tanta gente, marcando gerações. Ao longo de anos trabalhaste dias a fio, bem
me lembro das estórias que me contavas, dos púcaros de barro que acartavas à
cabeça e levavas a pé para Vila Meã e outros locais. Dos dias em que te
levantavas às 6 horas da manhã e ias a pé, num caminho sem luzes, para a missa
onde não faltavas. Eras conhecida como a Adelaide dos beijinhos, pois gostavas
de cumprimentar toda a gente, exaltando toda a tua simpatia e simplicidade.
Foste
uma guerreira: aos 88 anos és internada pela primeira vez com uma grave
pneumonia e aí quase te vi partir. Bem me recordo do médico me olhar e me dizer
para “me ir preparando”. Resististe e conseguiste lutar. Festejamos os teus 90
anos, reunindo toda a família ao teu redor. Meses depois voltarias ao hospital,
desta vez ao S. João, onde, uma vez mais, nos prepararam para a tua partida,
mas novamente mostraste que enquanto há vida há esperança e voltaste a tua casa,
para junto de nós. 24 de Setembro de 2014, completavas os teus 91 anos. Pouco
tempo depois, voltarias ao hospital por duas vezes e, nessas duas vezes, regressarias
à tua casa que tanto estimavas.
31
de Dezembro de 2014, uma manhã agitada para ti e, novamente, ias ao hospital.
Na sala de espera aguardava notícias tuas, até que a médica assistente me disse
que poderia vir para casa pois irias ser internada. Irias passar o ano num
quarto de hospital, longe da tua família. Aquela noite teve um sabor amargo,
faltavas tu para celebrar connosco a passagem do ano. No dia seguinte, lá estávamos
a ver-te. Foram 22 dias de idas e voltas do hospital.
Dia
22 de janeiro de 2015, 10 horas, o meu telemóvel toca, mesmo sem atender senti:
chegava a triste notícia, acabavas de falecer... Tudo desabou, os pensamentos
esvoaçaram pela cabeça e dezenas de recordações apoderaram-se do meu cérebro.
Partiste
fisicamente, mas eternamente ficarás nos nossos corações, nas nossas memórias.
Um passado recheado de boas lembranças, de bons sentimentos, que enchem de
orgulho os nossos corações.
Não
poderia deixar de agradecer a uma pessoa que foi mais que uma médica
internista, que sempre esteve presente para nos dar informações, sempre se mostrou
disponível. Afinal, o SNS não é só coisas ruins e, a Doutora Helena Almeida
Fernandes é exemplo vivo disso, de uma humanidade gigante. A ela e a todos os
profissionais de saúde um bem-haja.
Despeço-me
em palavras, pois no meu coração estás mais viva do que nunca. E porque a Vida
é uma Roda Gigante, cá continuaremos a perpetuar a tua Memória, até ao dia em
que nos voltaremos a encontrar.
Despeço-me,
com um até já.
Descansa em paz,
minha querida avozinha.
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