ANABELA BORGES |
Eu não acho graça nenhuma, mas nenhuma mesmo, que o Carnaval português seja abrasileirado. Primeiro, porque acho infinitamente mais interessante a nossa tradição dos trapalhões, dos bombos, das máscaras, dos gigantones, dos caretos, dos mascaréus, que era assim que chamávamos à forma como nos vestíamos de homem, de mulher, de velho, de rico, de pedinte, sempre com roupas dos adultos para parecermos mesmo ridiculamente tolos e, quanto mais não fosse, para nos rirmos da nossa própria figura; segundo (mas muito menos importante), porque está sempre um frio de rachar pelo Carnaval e as meninas vão, rua acima rua abaixo, a sambar, coxa grossa a tremer como gelatina e pele de galinha no peito.
Quanto melhor é um grupo de zé-pereiras a fazer a arruada, gigantones de braços bambos no calor da farta vestimenta, seguindo-se o desfile de graúdos e miúdos – os adultos com perucas, maquilhagem, mamas e cus postiços, as crianças nas peles das suas fantasias mais reais, os seus heróis. Imaginação e alegria, muita alegria!
O Carnaval pode ser um dos momentos de maior criatividade popular em Portugal.
E, se gostam do samba, podem sempre guardá-lo para as festas de Verão, para as romarias, que temos muitas no nosso Portugal, graças a Deus. Mas sempre sem esquecer os bombos, os caretos, os gigantones e a banda de música e a fanfarra.
Não nos tirem isso!
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