GABRIEL VILAS BOAS |
De todos os projetos que a vida, atualmente, me apresenta aquele que mais me atrai é viajar.
Viajar com tempo e sem tempo. Viajar para conhecer pessoas, lugares e paisagens. Poder apreciá-las, entendê-las, aprender com elas. Poder apreciar uma paisagem não apenas com a máquina fotográfica; captar a magia dos locais, entender as suas gentes, a sua história e costumes. Sem a fome cega de querer absorver e conhecer tudo, mas, com a serenidade de quem quer apreciar os gestos, a singular maneira de viver dos outros.
Os livros, as fotografias, as televisões permitem ao nosso espírito maravilhosas digressões. No entanto, sinto que se trata dum prazer incompleto. Um homem precisa de viajar por sua conta, não por meio de histórias, livros ou imagens. Necessita de viajar com os pés e com os olhos, para entender por si, para entender o que é seu e também o que não é.
Um escritor sul-americano escreveu um dia que “Morre lentamente quem não viaja…”. Não podia estar mais de acordo. Viajar é a grande oportunidade que temos de derrotar a solidão. Na viagem, a alma muda de roupa e procura a felicidade.
Contudo é preciso perceber que viajar é muito mais que calcorrear sítios, fazer check-in em aeroportos, colecionar carimbos no passaporte. É predispor o espírito e o corpo para aprender. Fazer concessões, não formular juízos nem impor a nossa visão do mundo e das coisas. Por vezes, é mesmo preciso despir a alma de preconceitos. Mas dificilmente não teremos retorno. Um imenso prazer de viver será apenas um dos prémios de quem viaja. Há ainda o encontro com a beleza, com o conhecimento e connosco. Talvez a mais rica de todas as recompensas, porque nos trará a felicidade.
Viajar é um projeto que não acaba. Torna-nos senhores do Tempo, cidadãos de diferentes gerações e latitudes. Quando acharmos que nada mais temos a fazer na vida, quando pensarmos que os revezes da fortuna nos deixarão cruelmente despidos, viajar é uma forma de recomeçar, de nos dar coerência. Podemos ir longe ou perto, até porque a bolsa não é igual para todos, mas temos de ir. Como diria o poeta, o importante é partir. Depois há um mundo por descobrir: as cidades cosmopolitas, as montanhas misteriosas, a solidão dos desertos, os mistérios de povos e culturas, o medo, a adrenalina, a descoberta. Por vezes, também a desilusão e o vazio.
Viajar é viver… lentamente… saborosamente.
Sem comentários:
Enviar um comentário