DULCE PONTES |
GABRIEL VILAS BOAS |
Dulce começou por escolher o Fado para mostrar a beleza, a paixão, a carga dramática da sua música, mas rapidamente ficou claro que estávamos perante uma cantora versátil, que tanto reinventa o fado de Amália como entoa obras clássicas ou produz world music.
A jovem que estudara piano, dança e teatro, emerge para o estrelato num festival da canção, no início dos
O álbum donde fora extraída “Canção do Mar” continha ainda outras preciosidades, entre as quais se destacam “Povo Que Lavas No Rio”, “Lágrima” e “Estranha Forma de Vida”, onde se percebe que Dulce Pontes está apostada em abordar o fado de uma maneira pouco ortodoxa, misturando sonoridades árabes e búlgaros com ritmos mais ibéricos. O fado tradicional surgia misturado com instrumentos modernos e canções icónicas do fado português eram reinterpretadas na voz de Dulce. O disco foi um sucesso tremendo e a jovem cantora era vista como a herdeira natural de Amália Rodrigues.
Só que, na verdade, Dulce nunca assumiu o trono. Em primeiro lugar, porque sempre quis ser mais do que uma cantora de fado, aproveitando toda a versatilidade da sua voz para experimentar, inovar, reinventar. Por outro lado, Dulce nunca gerou uma empatia muito forte com o público português, devido à sua personalidade mais reservada e distante. Sempre me pareceu que Dulce Pontes era muito respeitada, mas não amada. O facto de ter escolhido um tipo de carreira muito internacionalizado também a afastou do contacto com o seu povo que gosta de sentir a proximidade dos seus heróis.
Dulce continuou a evoluir, produzindo “Brisa do Coração” (1995), que a crítica acolheu com enorme entusiasmo, mas faltava outra canção tão arrebatadora como “Canção do Mar”, o que verdadeiramente nunca mais aconteceu. Todavia, a artista portuguesa continuava a somar êxitos além-fronteiras, gravando ao lado de monstros sagrados como Ennio Morricone ou José Carreras e marcando presença em acontecimentos importantes, tal como acontece no dia de hoje em que Dulce Ponte foi convidada a cantar o hino nacional na cerimónia de transladação do corpo de Eusébio para o Panteão Nacional.
Amanhã Dulce estará entre nós, junto ao Tâmega, rodeada por um mar de gente.
Dulce, vens cá para ver bailar o nosso coração, pois também foi contigo que ele aprendeu a sorrir, a bailar, a viver!
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