segunda-feira, 27 de julho de 2015

IR DE FÉRIAS

CLARA CORREIA
No hipermercado, aproximo-me da secção dos frescos enquanto, mentalmente, contabilizo à unidade o número de bananas, maçãs e kiwis que em casa serão, por estimativa, consumidos até irmos, em agregado familiar, de férias … questão de poucos dias, a não permitir, portanto, a permanência de fruta em casa sem viva alma por uma razoável temporada estival. Sou abordada por uma jovem representante de uma determinada marca de “exclusivos frutos do mar”, nas palavras dela. “Dá para congelar?”, pergunto antes mesmo de provar um dos pedaços sob os respectivos palitos num prato de papel (afinal, raramente se justifica a recusa de uma nova experiência, e menos ainda se for de degustação, digo eu); “Ah, não … mas dura vários dias no frigorífico.”, responde ela com a esperança da conquista de uma nova consumidora na voz, a sobrepor-se ao lamento inicial. Rapidamente, no entanto, compreendeu o meu argumento para adiar a compra e ainda acrescentou que o ouvia ali repetidas vezes: “ … estou quase a ir de férias.”. 

“Ir” de férias é, antes de mais, um “luxo” por estes dias, ou melhor, por estes anos, para o cidadão português médio que, de “médio”, numa comparação com os congéneres europeus, já “só” terá, com substancial sorte, o seu próprio estado de saúde; “estar”, sem “ir”, de férias implica, por muito fértil que seja a imaginação, permanecer nas imediações do trabalho (do qual se está de férias), das chatices & chaticezinhas e, eventualmente, das pessoas que, durante o ano, de alguma forma, “ajudaram à festa” das tais chatices ou chaticezinhas, com substancial sorte, em número suportável e de grau remediável no stress e na rotina que se adoça com humor, com amor e com o que estiver à mão para não sermos por ela esmagados até irmos de férias! De modo que … por esta bendita altura do ano, bem digamos a possibilidade que, eventualmente, tenhamos de “ir de férias” e congelemos o que restar no frigorífico e puder ser congelado mas, sobretudo, congelemos o que mais nos desgastou e ponhamos “ao fresco” o nosso entusiasmo pueril (nada ingénuo, porém, e único) que só se atinge com a maturidade constatada na atribuição do estatuto de “preciosidade” às férias e às “idas” a elas devidas. 

Boas Férias!

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