GABRIEL VILAS BOAS |
Em jeito caricatural, corre em vários sítios da internet o seguinte diálogo entre duas mães:
- O meu filho já sabe inglês, francês, japonês, piano, violino e xadrez, judo, futebol e karaté!
- Ah, sim? E já sabe também brincar?
O objetivo é claro: chamar a atenção de muitos pais para o excesso de atividades extracurriculares que impõem aos filhos.
As atividades extracurriculares são boas, pois desenvolvem aptidões escondidas, nas crianças, que a escola negligencia. Normalmente, apontam às artes, desporto e línguas estrangeiras.
Estas atividades foram criadas como complementos da escola, tentando ir ao encontro do gosto dos jovens. No entanto, os falcões do negócio depressa perceberam que os filhos são o maior objeto de vaidade dos pais e que todos os excessos que cometem em seu nome são aceitáveis. Por isso, facilmente, venderam a ideia de que este tipo de atividade era necessário para o futuro dos filhos e quantas mais, melhor! Se os filhos gostam ou não, se têm tempo ou falta dele, se são felizes ou infelizes ao realizarem aquela maratona de atividades pós-aulas, isso não interessa nada!
Há milhares de pais que inscrevem os seus filhos em três, quatro ou até cinco atividades extracurriculares sem nunca perguntarem à criança se gosta de alguma. Alguns nem se dão ao trabalho de contabilizar as horas semanais gastas nessas atividades e de somá-las às horas que os flhos passam na escola. Se o fizessem, chegariam à conclusão de que os seus petizes de seis/sete anos têm obrigações semanais de cinquenta horas! Seguramente, nunca tentaram executar o horário dos filhos, porque se o fizessem detestariam o criador de tal ideia!
E por que fazem isto os pais às suas adoráveis crianças? Por vaidade, por ignorância, por pressa sôfrega em dotar os filhos das sacrossantas ferramentas que lhes permitam triunfar, profissionalmente, no futuro.
Na verdade, não preparam futuro nenhum, porque, mal tenham algum voto na matéria, os jovens tratam de descartar 80% destas atividades, tão fartos estão que elas lhes tiranizem o tempo. Além de que o chique e o glamour de ter um filho ou uma filha em inúmeras atividades se esvai quando o petiz não demonstra qualquer aptidão para brilhar no meio dos filhos das amigas.
A maioria dos pais não quer saber da vontade dos filhos nem do trabalho realizado pelos professores de música, inglês ou voleibol. Quer é que o filho se destaque dos restantes. Muitas vezes apenas conseguem que o filho passe a detestar algo de que gostava, por excesso de atividades extracurriculares e ausência de tempo para brincar.
Uma criança precisa de ser criança: brincar, estar com os colegas e com os parentes próximos, partilhar segredos com os pais, descansar, fazer os trabalhos da escola. Se sobrar tempo, então, deve poder optar por uma/duas atividades que lhe dêem prazer e que por isso não o façam sentir-se cansado.
Perguntem às crianças o que gostam de fazer ou então observem-nas e proponham-lhes algo em que se realizem, mas jamais as forcem, imponham ou as menorizem se recusarem. O crescimento pessoal dum filho não se compra no supermercado. Exige tempo, paciência e presença. Percebem que, antes de mais, ele quer os pais, os colegas, os brinquedos e… ser, um pouco, dono do seu tempo! E tem direito a isso.
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