quinta-feira, 27 de novembro de 2014

IN(DEPENDÊNCIAS)

HÉLDER BARROS
Existe hoje em dia, uma casta de políticos na nossa praça que, ao fim de muitos anos de tentativa de assalto ao poder, por formas e meios diversos, estribados em organizações e/ou ideologias políticas, descobriram recentemente uma excelente forma de se catapultarem para mais altos voos na política, de uma forma mais rápida e bombástica, atalhando caminho.

Alguns destes seres, por exemplo, enquanto enquadrados em organizações partidárias, tornaram-se famosos por realizarem campanhas de oposição interna, fora dos locais próprios para tal, fazendo deste modo mais oposição, que a verdadeira oposição, passe a redundância. Na maior parte dos casos, com um pé dentro e o outro pé de fora… dá sempre muito jeito, para urdir as intrigas… (in)dependências…

É do conhecimento geral que, quando se faz parte de uma organização, seja ela de que cariz for, não se deve quebrar o sigilo sobre a informação critica ao funcionamento da mesma. Mas, neste caso, como se trata de gente com um ego que ultrapassa a sua dimensão física e humana, consideram perfeitamente normal este tipo de comportamento, que, no entanto, corroi até destruir qualquer organização.

Claro está que são pessoas que se pronunciam muito na primeira pessoa em tons estridentes – eu isto, eu aquilo, eu… aqueloutro – com sérias limitações no trabalho em equipa e que não são capazes de gerarem consensos, avessos à colegialidade, simplesmente porque se consideram seres especiais, iluminados por entidades divinas, incapazes de partilhar ou de aprender algo, com algum semelhante. A procura de soluções interpares, ou de discussões procurando um consenso o mais alargado possível, torna-se numa derrota para eles. Isso não, as suas ideias são sempre luminosas, únicas, brilhantes na sua obscuridade...

E que se passeiam em diferentes areópagos com a vaidade dos convencidos, daqueles que sabem tudo, considerando todos os outros ignaros, levando a que a sua própria mesquinhez acabe, mais cedo ou mais tarde, por se revelar.

Outros lavram opiniões e manifestos escritos, de tal modo herméticos na sua forma, cujo objectivo dos mesmos deverá passar certamente pela sua não compreensão integral, mas antes por evidenciar um estilo linguístico muito elaborado, no sentido de alimentar a sua vaidade intelectual.

O populismo brota das suas manifestações públicas, como a chuva cai neste outono aguadeiro, apresentando soluções para todos os males. Aos olhos destes visionários tudo está mal, nada é bem executado pelos outros, só eles têm a panaceia para todos os problemas, a solução para todas as obras, enfim, autenticos predestinados.

Nos últimos tempos, este tipo de populismo acentuou-se e aglutinou-se num conceito político dos chamados independentes, facto que até considero lógico, dado que estes seres não estão predispostos a cumprir minimamente os estatutos de qualquer organização política. Quem não viu antigos autarcas retirados coercivamente de candidaturas autarquicas, por práticas de abuso de poder, corrupção e diversos processos judiciais, a criarem imediatamente um putativo movimento independente?... Independentes de quê e de quem!

E como são individualistas e muito senhores das suas opiniões, tendo solução fácil para tudo, pelo menos do seu ponto de vista, nada como um agrupamento destas personalidades raras, para o fervilhar de todo um ideário sóciopolitico que reformulará de forma celestial o funcionamento da nossa República.

A bem da verdade, deve-se dizer que quase todos andaram atrelados a algum partido político no início das suas carreiras políticas, ou em qualquer momento da sua vida. Alguns quando se viram aflitos, até encontraram refúgio em partidos e/ou organizações, cujos líderes eram autênticos arrivistas e populistas. A sua inspiração política tinha que beber em alguma fonte ideológica e de especial modus operandi

O atual funcionamento dos partidos é muito criticável, todos temos que concordar com isso. Os cerca quarenta de anos de funcionamento da nossa Democracia começam a revelar vícios de funcionamento e uma falta de renovação das instituições e de insuficiente participação cívica que urge combater. É absolutamente verdadeira e inconstetável esta realidade.

A corrupção, um flagelo que atinge a sociedade Portuguesa desde tempos imemoriais, que inclusive disseminamos pelos quatro cantos do mundo, não nos dignifica, nem nos fortalece enquanto nação, com este deficiente e indecoroso funcionamento das nossas instituições, que acarretam graves repercussões sociais, como temos assistido ultimamente.

Penso, contudo, que não será de forma individual, mas antes de forma colectiva, com uma maior e melhor participação civica no funcionamento nas instituições, que poderemos melhorar de forma significativa a gestão da coisa pública.

Eu acredito em movimentos legitimos de independentes que defendam causas coletivas. Mais, considero que fazem falta à nossa Democracia, serão ótimos contrapoderes ao poder das classes dominantes, como diria Manuel Sérgio. Mas, movimentos independentes de políticos frustrados, de seres que nas estruturas partidárias nunca conseguiram alcançar os seus objetivos de poder, só podem redundar em mais do mesmo. Nada para construir, um Mundo inteiro para destruir...

E é muito difícil conciliar egos que transbordam aos corpos dos seus portadores e agregá-los numa organização, denominando-a de independente, para dar um ar moderno à coisa... tal é contranatura, como se poderão opor uns aos outros dentro de quatro paredes?... como irão depois todos a  todos os lados contar as suas aventuras que alimentam o seu ego?...


A pior atitude que se pode ter em Democracia, passa pelo alinhar no coro dos anunciadores de uma nova era, da tal organização baseada no poder decisório de seres independentes sequiosos de poder, atacando os partidos políticos por fora e por dentro, com a demagogia dos iluminados. Se os políticos não servem, mudemo-los, mas a nossa Democracia baseia-se numa estrutura partidária. E apesar desta ter muitos defeitos, que os tem, até esta data ainda não apareceu melhor forma de governação... e o populismo é um risco demasiado perigoso para um jovem Estado  Democrático como o nosso...

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