«Terra - Portal de Vida. Planeta do Homem» DR J. Emanuel Queirós Lançamento: Brevemente |
J. EMANUEL QUEIRÓS |
Por mais que tentes segurar o pensamento e o queiras amarrar à tua vontade, ele não tem matéria de um só sentido nem dispõe de lógica humana em toda a sua serventia, como não há um só rumo certo para o vento em que voamos e nos assalta sem permissão num assomo laureado aos vencedores.
Em terra pairam as gaivotas em bando sobrevoando telhados tisnados pelo tempo, reagindo à decifração das cambiantes matizes outonais, descobertos aos céus numa aguada em que se esbatem os medos e dissipam os segredos da eternidade, para além dos territórios diáfanos e venturosos da alma em espera.
Sombrias e soturnas são as moradias que se alongam em espaçosas assoalhadas desocupadas logo abaixo das transparências vitrais das clarabóias. Um mar chão ao tom da argila cobre a cidade feita ao alto em ritmos descompassados e bruscos, sem métrica nem melodia pelo seu arfar apressado e sem juízo.
No milimétrico alinhamento do horizonte tingido a pastel, a distância entre infinitos perceptíveis recobre-se da mesma ilusão que o torna visível na doce sintonia das aparências de que se faz o mundo dos sentidos. Sentidos mudos e quedos, abertos num copado surdo pingando em círculo sobre a alvorada dos dias comuns.
Tu és uma árvore no espelho da floresta ladeando o caminho solvente nas veredas em que o sol se espreguiça suavemente no chão morno. Tronco volúvel em chamas pungentes de um fogo-fátuo, timbrado o âmago em suas amarguradas redenções.
Inevitável é o tempo do ir e do amar, do sentido no verso do sentimento e no seu equívoco bramir, solto em cachoeiras mansas sobre o vazio florescendo aos borbotões num êxtase caleidoscópico monumental.
Fluem imparáveis os ímpetos revigorados na natureza passiva, cursando suas correntes na ausência de um reconhecido norte, lavando com o pó da terra em polimentos ao mineral.
É estranho o mundo avistado do alto da falésia ou do topo do farol entre algodões humedecidos cintilando suas rasas projecções para quem tacteia às cegas nos densos nevoeiros portadores de surpresas inauditas e de presságios lavrados a fogo e cinzel.
A hora do homem chegará em breve no renascer deste contínuo desbravar de espaços e de vazios opacizados por matéria fluida como os nevoeiros fugindo ao bramido dos ventos que os tocam.
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