Pormenor da mesa de apresentação |
Narrativa evoca a
história de amor entre Dom Pedro e Inês de Castro, com interlúdios de «Os
Lusíadas», de Luiz de Camões.
Pela
voz do editor Luiz Pires Dos Reys e do poeta e crítico literário José
Emílio-Nelson, a obra veio a lume, no passado dia 21 de Novembro, na Biblioteca
Municipal Albano Sardoeira.
“Trata-se de uma narrativa de inspiração
inesiana, que desfia uma sequência de solilóquios de Inês de Castro e de Camões
(que, como se sabe, tratou o tema n' «Os Lusíadas») e que, à beleza do modo de
dizer antigo, associa o olhar do homem dos nossos dias.
Uma pequena obra
que não é uma obra pequena.
As imagens da
capa e contra-capa da obra reproduzem trabalhos do pintor Paulo Damião
[cortesia da
galeria de arte Trema-Arte Contemporânea]”.
EDIÇÕES SEM NOME
ANABELA BORGES |
AS PALAVRAS DA
AUTORA
Trata-se
de uma narrativa a duas vozes (a de Camões e da própria Inês) sobre a mui nobre
e grandiosa (segundo muitos crêem, única no mundo) rainha póstuma, Inês de
Castro. É uma obra que me é muito cara, já que a tenho escrita há quase três
anos e só agora (depois de apreciá-la, cuidá-la, ‘ouvi-la’) me decidi a
publicá-la.
Mais
do que um momento solene, para mim, a apresentação de cada nova obra é um
momento de gáudio e de festa, por poder contar com o apoio de conterrâneos,
amigos e família.
É
imensa a honra de ver esta obra publicada pelas Edições Sem Nome, pela mão do
seu editor Luiz Pires Dos Reys, que apostou nela de uma forma singular. Eu não
poderia ter encontrado melhores incentivos do que aqueles que me foram
apresentados, desde o primeiro ao último sopro do livro, da primeira à última
palavra do livro que agora tendes em mãos.
Não
é fácil falar sobre o processo de criação desta obra em particular.
Eu
quis escrever uma história de amor. E não me foi dado ver outra que superasse a
de Pedro e Inês, tão abordada em todos os géneros literários, cantada por
tempos imemoriais, e nunca esgotada.
Mais
afirmo que não tenho qualquer pretensão de que este livro seja classificado de
narrativa histórica. Desenganem-se os que assim pensarem, pois esta é uma
narrativa puramente ficcional e ficcionada.
Como
referia atrás, quis escrever uma história de amor. Precisei de auxílio – aquilo
que muitos designarão de inspiração,
ou se fosse na voz do Poeta “o engenho e
arte”. De facto, foi este Poeta, o próprio Luiz Vaz de Camões, que veio em
meu auxílio. O episódio lírico de Inês de Castro (Canto III, est. 120 a 136 de
«Os Lusíadas») é talvez aforma mais sublimada de cantar esta forma de amor que
ultrapassou vozes, paredes, atravessou o próprio tempo, e, cuidando de derrubar
um reino, ultrapassou a própria morte. Camões analisa este Amor, eleva-o com a
paixão dos poetas, condena-o com a indignação que as circunstâncias lhe
provocaram. Por essa razão, por ser o amor tão generoso e tão cruel, o próprio
poeta condena-o, na epopeia, como “áspero
e tirano”, que quer suas “aras banhar
em sangue humano”. Veio Camões em meu auxílio para ser um dos narradores de
«OS ANJOS DE PEDRA». É o que dá os poetas serem esternos.
Camões
surge, assim, na minha obra como comentador-observador, como testemunha desse
amor que tantos quiseram calar, mas que nenhuma voz conseguiu silenciar, pois
por tempos imemoriais, se cantarão os amores de Pedro e Inês.
Depois,
há a voz de Inês. Pode dizer-se que é uma voz que ecoa fortemente em mim. É uma
voz que me fala e muito me diz. Eu transformei também a voz de Inês em
narradora.
A
Inês de Castro que vos trago nesta obra é a mulher que talvez apenas possa ser
inteiramente compreendida pelas mulheres, mulher frágil e determinada,
angustiada e intuitiva, sacrificada, subjugada, impotente, apaixonada. “Nunca me foi dado saber que tivesse o
destino assim fadado, senão agora, guardada que trago a meninice a um canto da
memória. Vejo-me menina, numa infância roubada em obrigações, num caminho que
fiz tão longo da Galícia para aqui, para vir servir tua esposa, para ser das
aias a mais bela – a tua eleita.” (passagem da obra «OS ANJOS DE PEDRA»).
A
minha pretensão última, isso sim, é que esta obra constitua um louvor à Rainha Póstuma,
Inês de Portugal – na voz de Camões:
“O caso triste e digno de memória,
Que do sepulcro
os homens desenterra,
Aconteceu da
mísera e mesquinha
Que despois de ser
morta foi rainha”.
–
Na voz de «OS ANJOS DE PEDRA»:
“Deitados frente a frente, olhos nos olhos,
para o dia do juízo final, podereis sentir, Pedro e Inês, como é o poder dos
anjos, pois que aos anjos é dado assistir na vida e na morte, estátuas em
túmulos, anjos de pedra – pois que assim seja.
Serás rainha, Dona
Inês, como sempre desejou o teu amado – pois que seja feita a sua vontade, post
mortem”.
Para
terminar, faço votos de que, no fim das contas, no fim de cada caminho,
encontremos sempre o amor.
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