GABRIEL VILAS BOAS |
O tempo não voa, não corre nem está parado. O minuto sempre terá sessenta segundos, a hora sessenta minutos e o dia vinte e quatro horas. No entanto, sempre refutámos esta verdade irrevogável, porque ela é supinamente aborrecida. Talvez por isso passemos a vida a falar sobre o tempo psicológico, isto é, aquele que verdadeiramente nos interessa, aquele que discutimos, lamentamos, dizemos que é pouco ou muito, que passa depressa ou devagar.
São os nossos estados de alma que determinam a passagem do tempo que nos interessa. Nesse sentido falamos em aproveitá-lo ou desperdiçá-lo, como se ele não continuassem a transcorrer sossegadamente, imperturbável aos nossos humores.
Ouço frequentemente “Não tenho tempo”, no entanto ele é infinito. Todavia, não ter tempo para fazer determinada tarefa, exercer um cargo ou desempenhar um papel depende muito da gestão que fazemos das horas, dias, meses que todos dispõem.
É possível cumprir horários e prazos, não acumular serviço por fazer, deixar de andar constantemente a correr. É possível deixar de elevar o stresse ao limite. Basta uma boa gestão, com regras simples e eficazes.
O primeiro passo é estabelecer prioridades. Há tarefas que são mais importantes que outras assim como há aquelas que são objetivamente urgentes e há aquelas que devemos ter a coragem de rejeitar.
De seguida, há que ganhar o hábito de pensar a médio prazo, o que na prática significa planear horários, semanas, meses. Ser capaz de ter uma visão macro e micro das tarefas que certamente nos esperam, sem esquecer que há que descansar, divertir, corresponder a qualquer imprevisto, que as circunstâncias ou os outros por certo nos imporão.
No entanto, o plano poucos problemas resolverá se não aprendermos a calcular realisticamente o tempo que cada compromisso nos tomará, procurando sempre evitar atrasos. Estas aprendizagens demoram sempre algum tempo e implicam que mudemos alguns hábitos.
Anda em permanente stresse quem não delega tarefas e confia que os outros são perfeitamente capazes de dar conta do recado. Por outro lado, há tarefas inúteis que insistimos em realizar ou há muito devíamos ter eliminado. Decidir, escolher, confiar.
A gestão do tempo é também uma prova de inteligência. Nem todas as tarefas tem que ficar feitas com perfeição. Algumas têm simplesmente que se fazer e pronto. Outras há que exigem o nosso melhor: atenção, concentração, mais tempo.
É fácil cometer este erro, mas ele surge abundantemente. O perfeccionismo na hora e no sítio errado só atrapalha.
Depois há pequenos truques que esquecemos de aplicar: aproveitar os tempos mortos em que temos forçosamente de esperar, no médico ou na paragem do autocarro, para fazer tarefas obrigatórias como ver o e-mail é um deles. Outro é saber agrupar tarefas, pois essa atitude impede que algo importante fique por fazer ao mesmo tempo que não dispersa perigosamente o nosso foco.
Por último, um aspeto muito negligenciado, especialmente pelos pais: interromper quem fala connosco. Ele vai ter de recomeçar, certamente com pior humor, e algo importante na sua comunicação corre sérios riscos de se perder.
Saber gerir satisfatoriamente o tempo de que todos dispomos é uma sabedoria ao alcance de todos ainda que poucos a possuam.
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