quinta-feira, 16 de outubro de 2014

TECNOLOGIA VERSUS DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

HÉLDER BARROS
DR
Cada vez mais aparecem estudos científicos internacionais que dão conta de que o ser humano não está a desenvolver e aumentar as suas capacidades cognitivas. Pelo contrário, referem uma preocupante paragem no tempo, no nosso processo de desenvolvimento cognitivo, começando a lançar axiomas que visam mesmo provar uma possível involução do mesmo.

Neste sentido, o geneticista da Universidade de Stanford (EUA), Gerald Cabtree, acredita que os humanos “perderam a pressão evolutiva”, o que levou à perda de capacidades intelectuais e emocionais, porque já não precisamos de inteligência para sobreviver e tudo nos é facilitado com smartphones, GPS, motores de busca na internet, etc..

Claro está que, a minha perspectiva visa apenas a sociedade contemporânea, enquanto que a teoria deste cientista, abrange milhares de anos, pois, segundo ele, os Gregos que habitaram a Terra mil anos antes de Cristo, deviam ter uma inteligência ao nível daqueles que se consideram génios, hoje em dia. 

A hipótese polémica defendida por Gerard Crabtree é que a evolução fez com que o ser humano se tornasse menos inteligente, com o passar do tempo. A sua tese consiste na crença de que ao longo de milhares de anos de evolução, o ser humano foi perdendo e alterando os genes que o tornam inteligente.

Até agora, pelo que registo enquanto docente, quem sou eu para dizer que, em termos globais, as pessoas estejam a ficar mais ou menos inteligentes. No entanto, posso constatar a tendência para uma certa “preguiça intelectual”, como tendência generalizada.

Embora a marca google já tenha sido ultrapassada pelo facebook, pelo menos é isto o que o mercado nos revela, não posso deixar de registar que, no domínio académico e não só, se tende a considerar o primeiro como que a resposta para todas as nossas dúvidas, a panaceia com todas as respostas, à velocidade de um clique.

Eis então, como uma poderosa fonte de conhecimento, nos trai pela amigabilidade do seu uso. Não deixa de ser paradoxal, mas a facilidade de utilização, tende a que usemos as coisas com menos cuidado e critério, menor atenção aos resultados das pesquisas e a darmos sempre como certos, os primeiros resultados devolvidos pelo potente motor de busca, pelo menos em quantidade de informação.

Experimente-se solicitar um trabalho qualquer a um aluno e incluo aqui também os do ensino superior, e, não raras vezes, deparamo-nos com trabalhos de “copy” + “paste” descarado. E esta é uma prova evidente da tal preguiça mental, que pode ou não degenerar em processos de involução cognitiva.

Sou um otimista por excelência e por muito que veja os jovens a teclar desabridamente nos seus smartphones, numa linguagem muito própria e no mínimo, muito redutora, penso que desenvolvem outras competências que os menos jovens não possuem: destreza manual, linguagem simplificada e codificada, rapidez de comunicação e de pensamento, etc.

A quantidade de informação com que lidamos é incomensuravelmente superior à que qualquer civilização foi sujeita até á data. Quantidades de informação, cada vez maiores, rapidez cada vez mais superior, faz com que, fazendo o paralelo com as máquinas, o hardware tenha que ter mais capacidade, para suportar o desenvolvimento do software. É nisto que quero acreditar, penso que estamos ainda a desenvolver a nossa capacidade cognitiva e a adaptar-nos ao rumo dos dias que correm, embora de uma forma cada vez mais acelerada.

Nem o volume craniano médio da classe humana me parece que esteja a crescer, tal como previam alguns que imaginavam homens de corpo pequeno e de cabeças predominantes, nem iremos, por certo, perder capacidades cognitivas. Penso que o nosso destino passará pelo desenvolvimento da nossa capacidade de adaptação a novas ecologias humana, científica e tecnológica.

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