GABRIEL VILAS BOAS DR |
Muitas vezes, pensamos, com alguma angústia, o que podemos fazer para melhorar a sociedade em que vivemos. Rapidamente alinhamos, mentalmente, algumas ideias, mas segundos depois começamos a ver impossíveis de exequibilidade em cada uma e… desistimos da nossa intenção, ao fim de poucos minutos.
Uma análise mais atenta à nossa vida, permitiria perceber que as melhores realizações da nossa vida partiram de ações simples, eficazes e facilmente concretizáveis. O nosso contributo cívico será tanto mais poderoso quanto mais simples forem as nossas ações. E uma ação simples que podemos executar com facilidade é dar o exemplo.
Dar o exemplo é uma atitude fundamental na sociedade moderna, que se tornou simultaneamente inteligente, interativa e afetiva.
Dar o exemplo é algo que toda a gente pode fazer, a todo o momento, nos mais variados contextos.
Dar o exemplo não é algo que se diz, é algo que se faz. Implica uma dose razoável de humildade, algum saber e total disponibilidade física e mental, mas aporta ao indivíduo e ao grupo relevantes vantagens: aproxima pessoas, previne conflitos ou termina com eles, humaniza chefes, diretores ou superiores, destrói mitos.
Mostrar como se faz não é apenas um comportamento ético superior, uma demonstração de elevação moral, mas uma necessidade. A maioria de nós precisa de ver fazer. Alguns mais do que uma vez. Em Portugal, então, esta necessidade é sentida duma maneira mais aguda, pois somos um país em que muitos pretextam saber como se faz, mas não fazem. É fácil encontrarmos quem esteja pronto a mandar fazer, mas não faça a mínima ideia de como se faz.
É pela cultura do exemplo que as lideranças se afirmam. Na escola, no trabalho, na família, na política, na sociedade, precisamos urgentemente de líderes que sejam respeitados pela sua reconhecida competência técnica, pela ética das suas ações e pelo modelo que são e que constituem.
Um professor deve demonstrar claramente como se faz um exercício matemático ou físico, como se faz um artigo de opinião ou redige um relatório duma experiência científica. A autoridade dum dirigente provém-lhe da sagacidade e justiça com que gere as relações humanas, mas também da demonstração clara de que sabe fazer o serviço melhor do que qualquer um dos seus subordinados. Em política, a ação paradigmática é muito mais mobilizadora dum povo que o mais belo dos discursos. A melhor educação que um pai pode dar a um filho é o seu exemplo.
No entanto, é preciso entender claramente que o exemplo não é um luxo cívico, uma benignidade que fazemos ao parceiro do lado, uma conduta excecional para espiar os nossos pecados coletivos. Dar o exemplo tem de ser uma conduta de normalidade. E em Portugal precisamos de ganhar essa mentalidade.
Dar o exemplo é criar uma mentalidade trabalhadora, humilde, cívica e ética.
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