GABRIEL VILAS BOAS DR |
Hoje, somos uma sociedade imediatista e consumista, onde as solicitações permanentes não deixam tempo para parar, refletir, decidir com critério. À nossa volta há excesso de ruído e muitas vezes sentimos desejo de silêncio.
O silêncio é necessário Como a noite ou a luz. É o irmão gémeo das palavras. Habituados que estamos ao turbilhão das frases, dos discursos, dos debates, das ideias luminosas, o silêncio inquieta. Que significará aquele silêncio? Muitas vezes, apenas cansaço físico, noutros casos, não.
É curioso pensar que o silêncio pode ser usados pelos tolos, pelos sábios ou pelos políticos. Para uns será o puro vazio, para outros, oportunismo ou covardia e para um grupo mais reduzido, a mais eloquente resposta.
Reconheço necessidade, valor, sabedoria ao silêncio, todavia prefiro as palavras. O silêncio é tolo quando somos sábios, mas é sábio quando somos tolos.
Não gosto do silêncio tático e medroso da classe política, que tem opinião sobre tudo o que é fútil mas se fecha em copas sobre o essencial. Não compreendo o silêncio dos jornais, rádios e televisões perante a aldrabice de muitos discursos. Não entendo o silêncio covarde da falsa cidadania perante a penosa velhice duma grande parte dos nossos reformados.
Não gosto do silêncio com cara de politicamente correto. Essa é a ação daqueles que nunca saem da sua zona de conforto, nunca arriscam uma opinião. Claro que ter opinião tem um preço e comporta riscos, mas o prazer da vida é mesmo esse. Não temos de ter sempre razão nem temos de ter sempre opinião, mas devemos estar disponíveis para dizer o que pensamos sem pensar naquilo que ganhamos ou perdemos.
Ainda que não tenhamos consciência disso, o silêncio, por vezes, faz mal, especialmente no mundo das relações, pois pode significar ausência, indiferença, desprezo. Há muita tristeza que começa no silêncio daqueles que amamos. Depois transforma-se em solidão, azedume, infelicidade. E tudo seria bem diferente com uma palavra, um carinho, um afeto. É impressionante o tamanho dos muros que construímos com o silêncio. O silêncio esvazia as relações, cria angústia e desconfiança. Uma família habituada a conversar ou a trocar confidências é normalmente mais feliz.
O silêncio só é sábio quando é sensato. No entanto não devemos confundir sensatez com falta de coragem.
Quando a ignorância alastra e a injustiça triunfa, preciso dum exército de palavras certeiras e decididas que derrote o silêncio comprometido.
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