ALINA SOUSA VAZ |
Os dias que correm carregam o semblante da tristeza. Adormece-se com um peso nos ombros e o acordar fustiga de imediato a madrugada de dolência profunda.
As imagens repetidas até à exaustão do atentado em Bruxelas, os “frames” do horror sofrido das vítimas, que como nós levavam as suas vidas, não me deixam mais forte, e não me deixam mais corajosa. Sim, eu sei que a vida tem que continuar e que só sairei vitoriosa se continuar a viver. Mas não me digam para não ter medo.
Eu tenho medo!
Cada imagem repetida leva-me a uma observação mais atenta e o pormenor esclarece o peso de cada palavra proferida de angústia, os gestos do amor que beija como se fosse a última vez, a coragem dos pais que se agarram aos filhos como se os seus braços fossem escudos às suas mortes.
Eu tenho medo!
Hoje, sentámo-nos todos à mesa e rimos com choros pelo meio. Fui à escola do ninja receber as avaliações finais de período, saí de lá orgulhosa. Novamente em casa, observo-os nas brincadeiras, nas brigas de irmãos. Observo-os, sugo-os e cresço com cada palavra que lançam como se nada significassem no meio de tantas outras: “mãe princesa”, “rainha”, “olá”, “és a mais bonita”, gosto de ti”… Eu tenho medo, sim! Tenho medo de perder tudo isto, porque sou filha, mulher e acima de tudo Mãe!
Eu tenho medo!
Medo da realidade presente que nos assola e da ideia de um futuro sangrento. Bruxelas é a cidade de um país central que recebe e acolhe a maioria das instituições europeias. Fontes revelam que Bruxelas albergava as células mais importantes do Daesh e o país, na sua proporção, tem o maior número de jiadistas no autodenominado Estado Islâmico. Como pode acontecer isto desta forma, num país que é informado sobre estas ações? Somo protegidos por quem? Quando acontece estas tragédias, todas as potências se dizem unidas. Mentira! Continuaremos separados com base nos interesses económicos do armamento e petróleo.
Cartazes anti-terroristas aclamam que nunca haverá medo perante gente que atenta a vida baseado em ideologias fundamentalistas. Eu sei que os terroristas alimentam-se deste medo! Eu sei que este sentimento inibidor e de retração aumentam a perceção de ameaça. Eu sei! Mas não sei sentir de outro modo, porque a política existente trata de tudo menos das pessoas.
Tenho medo!
Mas eu sei que a melhor maneira de combater este medo é seguir em frente e respirar coragem, mesmo que a sombra do medo te persiga. Olhar cada manhã e senti-la no café da manhã, no trabalho, no leva e traz dos ninjas à escola, nas partidas de futebol da criançada e no sorriso bom entre os que me rodeiam.
Eu tenho raiva, sentimento que me faz reagir, sou corajosa, mas tenho medo!
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