PAULO SANTOS SILVA |
Apesar de a minha idade não ser propriamente a de um ancião, já posso dizer que “ainda me lembro dos tempos” em que os novos talentos que imergiam nos programas televisivos, se tinham de fazer concorrentes em programas em que os consagrados eram os que tinham o papel maior e o júri era constituído por altas individualidades do mundo do espetáculo. Era o tempo de concursos como “A Visita da Cornélia”, onde pontificavam os grandes Raul Solnado e Fialho Gouveia (na autoria e apresentação), bem como um júri que reunia algumas das figuras maiores da cena cultural de então, como era o caso do ator Paulo Renato, da locutora de rádio e televisão Maria Leonor e do grande escritor Luís de Sttau Monteiro. Foi neste programa que surgiram nomes como o escritor José Fanha e o ator Tozé Martinho, entre outros.
Outra possibilidade, era ter a sorte de cruzar com alguém que já tivesse “nome na praça”, que ao lançar um projeto se dispusesse a apostar em gente nova. Foi o caso do “jovem” de 21 anos de nome Herman José, que apareceu no “Nicolau no País das Maravilhas”, interpretando uma rábula que haveria de ser maior que o próprio programa – Sr. Contente e Sr. Feliz – em parceria com Nicolau Breyner.
Aproveito esta referência, para prestar a minha sentida homenagem à memória desse enorme artista multifacetado que foi o Nicolau Breyner. Não o conhecia pessoalmente, como muitos dos que me leem neste momento, mas não posso deixar de sentir que partiu de uma forma inesperada alguém que me era muito próximo, com quem dei muitas gargalhadas nos programas cómicos, que me arrancou algumas lágrimas nos seus papéis sérios e me surpreendia a cada vez que o ouvia cantar. Nicolau Breyner tinha essa versatilidade – foi um enorme comediante, um enorme ator de cinema, novelas e teatro, um enorme realizador, sem esquecer a “paternidade” das novelas portuguesas, que tão justamente lhe é atribuída. Que descanse em paz!
Mas voltemos à pergunta inicial, serão os programas de talentos um princípio, um meio ou um fim?
Poderão ser tudo isto e não ser nada. Passo a explicar.
Poderão ser um princípio de carreira artística mediática, a partir do momento em que se mantenha os pés assentes no chão e a humildade de perceber que ainda há muito trabalho pela frente e que uma carreira se constrói com muito trabalho e persistência. Seria este o conselho que eu daria aos mais jovens de idade (o caso de Micaela Abreu, de apenas 15 anos de idade, é paradigmático), para que não se ofusquem com os primeiros holofotes da fama. Não faltam exemplos de jovens que ganharam competições congéneres (até nas suas versões europeias…) e que nada mais fizeram de que haja memória.
Poderão ser um meio de dar visibilidade a algo que se faça, sendo que no caso do Got Talent, permite que áreas que normalmente não cabem nos outros formatos se possam dar a conhecer. Belíssimos exemplos dados pelo Ricardo Paz (magistral no Mastro Chinês) ou pela Mariana e o Alfredo nas Forças Combinadas (alguém reparou que a Mariana é estudante do 3º ano do curso de Medicina?...).
Finalmente poderão ser um fim. Um fim para atingir os “famosos” 2 minutos de fama que alguns procuram, não se coibindo para isso de fazer a sua figura mais ridícula, sujeitando-se desta forma ao enxovalhamento público. A esses, mais do que perder tempo a vê-los aconselho outro tipo de formatos, nomeadamente aqueles que envolvem casas, quintas e segredos.
Talvez fizessem melhor figura do que os que lá estão!!!
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