quarta-feira, 23 de março de 2016

SER IDOSO NA NOSSA SOCIEDADE

JORGE MADUREIRA
Verifico que os idosos são pouco protegidos. Aqueles a que chamamos de “velhos” mais não são do que pessoas na idade da sabedoria.

Escrevo agora porque estava a ver uma reportagem sobre idosos e da sua vulnerabilidade face às vendas agressivas de que são alvo. Quem os protege? É necessário estar muito atento a este tipo de predadores e agiotas.

Mas existe também muita hipocrisia. Ainda há dias via algo que me custou a ver. Uma estrela de algumas décadas atrás a ser criticada por usar biquíni “estava velha para usar biquíni”, diziam. Todos os que agora fazem esse tipo de comentário e apreciação pensam que isso não acontecerá com eles?

Além de maus tratos (a que assistimos serenos) muitas das vezes, ainda são vítimas de preconceitos.

Assim como juventude não é privilégio, velhice não é defeito. Todos devem ser respeitados, respeitar o tempo de cada um.

Ouvimos notícias que nos dão conta de idosos que morrem sem que ninguém dê por isso. O peso da solidão a que se assiste deve ser de uma dimensão indescritível….

Deve ser um problema de consciência colectiva, pois acho que tratamos mal o envelhecimento. É necessário que haja uma maior consciência de ajuda.

Existe várias formas de violência nos idosos: violência conjugal, violência por parte de filhos e netos (toxicodependência, álcool, delinquência), entre muitas outras. A crise económica que vivemos também contribui para aumento da violência. Ela pode ser física, violência psicológica e financeira.

Com a esperança de vida aumentada, o número de idosos multiplicou-se, mas a sociedade não se organizou como deveria para eles, com justo respeito e consideração por a sua fragilidade e claro, a sua dignidade.

Verifico que enquanto jovens, somos induzidos a ignorar a velhice, como se fosse um mal a mater à distância. Quando ficarmos velhos, nomeadamente se somos pobres, doentes, sozinhos, testamos lacunas de uma sociedade programada sobre a eficiência, que por consequência ignora os idosos. Não sabemos tratar e estimar os idosos. Eles são uma riqueza, não devem, não podem ser ignorados. 

A forma como se trata os idosos diz tudo da qualidade de uma sociedade. Que lugar lhe reserva a sociedade. Temos lugar para os idosos? Há atenção para os idosos? É necessário que os idosos não sejam simplesmente descartados porque criam muitos problemas e despesa.

É um dos grandes desafios da sociedade contemporânea. Os filhos diminuem, os velhos aumentam. Existe cada vez mais uma cultura de lucro, assim sendo, os velhos são um peso. São um fardo. Cresce nos idosos a angústia de serem mal suportados, logo, abandonados.

Os idosos são mulheres e homens, são mães e pais que nos deram muito e de quem recebemos muito. O idoso não é um ser estranho. É um de nós. Se tratarmos bem um idoso, assim seremos tratados. Se não há honra para os idosos, que futuro têm os jovens?

Os idosos precisam de ser vistos como cidadão comuns. Precisam de ser tratados de igual modo e não de caridade. As pessoas que lidam e convivem com idosos deveriam estar (altamente) preparadas, e saberem o que acontece quando a pessoa envelhece. Nunca se deve isolar nem deixar isolar um idoso.

Amanhã todos seremos velhos.

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