GABRIEL VILAS BOAS DR |
Se há coisa que caracteriza os tempos em que vivemos é a informação. Ela
está disponível por todo o lado, em múltiplas formas e em quantidades que
ultrapassam a nossa capacidade de absorção.
E é aqui que a angústia se instala para quem pretende transformar
informação em conhecimento e, através deste, alcançar um estado de satisfação
pessoal.
Recorrentemente cometemos o clássico erro de querer chegar a tudo. Por
avidez, por vaidade, por ignorância. Transferimos a ideologia consumista para
um mundo que é, essencialmente, espiritual. Só podia dar mau resultado!
Processar informação em conhecimento dá muito trabalho e não é suscetível
de causar inveja social, esse novo elixir da juventude e do ego.
O conhecimento anda devagar pela vida. Foi feito para saborear e para
partilhar e por isso dá-se muito mal em pistas de Fórmula I. O conhecimento não
é vaidoso, ávido ou invejoso, muito menos sectário ou preconceituoso, porque
sabe que esses são predicados dos ignorantes.
A primeira qualidade do sábio é a humildade. O seu conhecimento será
sempre, e por definição, limitado. O sábio possui ainda outra virtude: a
frugalidade. Ele não ambiciona possuir toda a informação nem a quer só para si.
A primeira demonstração de sabedoria que podemos ter num mundo a
abarrotar de informação é saber selecionar. Selecionar não é excluir, mas antes
hierarquizar, escolher aquilo em que nos vamos concentrar.
Quando absorvemos corretamente esta ideia, o conhecimento tem muitas
hipóteses de se tornar um prazer. Segue-se o diálogo, a troca de ideias, a
argumentação, a curiosidade… e assim se vai construindo um nível superior de
satisfação intelectual.
A sabedoria alimenta-se duma vasta e diversificada informação, mas sem a
digestão correta acaba por engordar e deformar o sábio, de tal forma que
ninguém o aprecia nem ele anda satisfeito com o seu peso. Comeu demasiado,
comeu mal. O mesmo se passa com muitos de nós quando lemos, vemos, ouvimos,
viajamos com sofreguidão. O silêncio, a reflexão e o saber ouvir são excelentes
mestres de vida.
Antoine Lavoisier dizia que na natureza “na se perde, nada se cria, tudo
se transforma”. Com esta máxima, aprendemos a transformar lixo em
matéria-prima, mas primeiro tivemos de aprender a separá-lo para depois o
reutilizar. Só quando aprendemos a separar o lixo é que este deixou de ser
lixo. Toda a informação é importante, mas se não for hierarquizada acabará no
cesto do lixo porque aquilo que não percebemos, cansa-nos e em pouco tempo
desprezamos.
Claro que conhecemos melhor aquilo que amamos. O truque é amar a
descoberta e deixar que as coisas, os sítios, as pessoas nos conquistem…
lentamente.
Quem aprecia o prazer de comer inventou o conceito gourmet e no
conhecimento precisamos de copiar a ideia porque desfrutar é um prazer de
sábios.
Sem comentários:
Enviar um comentário