GABRIEL VILAS BOAS DR |
É
verdade que a Alemanha é cinzenta e que a saudade, nos primeiros tempos, é
tamanha, mas os aviões levam cada vez mais jovens portugueses, cheios de sonhos
e ambições para concretizar noutro lugar.
As
estatísticas são frias, por vezes cruéis, sempre verdadeiras. Dizem-nos que 500
mil jovens portugueses deixaram o país na última década. Como são simpáticas
não divulgam quantos patrícios sucumbiram à “saudade tamanha” de Abrunhosa. São
poucos, muito poucos, tão poucos que nem vale a pena contar. Talvez por isso
Abrunhosa tenha sentido necessidade de escrever aquele “hit” que nos entra pela
alma adentro e nos magoa o coração, mesmo que não pensemos em ir embora.
Este
país não é para novos e também não quer os velhos, a quem rouba, mês após mês,
euro atrás de euro, uma dignidade cada vez mais mínima. Não é para jovens,
despreza os velhos, proíbe as crianças, mas está excelente para aldrabões,
corruptos, mentirosos, ou seja, a fina flor do entulho.
Regresso
àqueles que partem, novos e velhos, e que não voltarão. Não tenhamos ilusões!
As lágrimas de dor e raiva que brotam nos aeroportos hão de transformar-se em
alegria contida, quando dali a dois anos, os ordenados de três/cinco mil euros
lhes entrarem nas contas do banco. Verão que o inglês técnico do Sócrates
sempre teve algum préstimo. E ao guiar um BMW em Berlim, Paris ou Amesterdão
lembrarão palavras como “conforto”e “qualidade de vida”.
O
mais certo é que não comprem amor pelo jornal. Virá de avião, de carro ou até a
pé. Em todo o caso, eles – os jovens portugueses – é que não virão jamais para
a terra do nunca. Aqui, cerra-se os dentes para perder devagarinho, mendiga-se uns
jurinhos mais baixos para pagar a dívida a cinquenta anos!
Ei-los
que partem, matando a alma dum futuro muito mais cinzento que a Alemanha.
Abrunhosa gosta de acabar os concertos enchendo de lágrimas os olhos dos fãs e
embargando a voz de comoção tamanha. Vivemos uma guerra silenciosa, onde as
baixas levantam voo e não tombam. Os que ficam tombam devagarinho, por lhes faltar
a inovação dos jovens, a loucura criadora, a coragem e o desprendimento que são
a locomotiva de qualquer país. Alguns dizem “adeus e até ao meu regresso”, mas
nós sabemos que é para sempre!
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