Gabriel Vilas Boas DR |
Se a felicidade é o mito do indivíduo, a PAZ é o sonho dos povos.
Pedra angular de qualquer sociedade, é fácil perceber a relevância da paz. Nada funciona como desejamos se não vivemos em ambiente pacífico.
A maioria das pessoas pensa que vive em paz, sobretudo porque no seu mundinho não ouve o som das metralhadoras, a polícia não passeia pelas ruas e os generais não ditam as suas leis marciais. A Europa, os EUA, o G7 vivem em paz? Então há paz…
Na verdade, a paz mundial é um mito. Nunca houve plena paz entre todos os povos do planeta porque isso nunca interessou a alguns indivíduos que enriqueceram a sabotar a harmonia entre as nações, especialmente quando estas não entendiam o valor civilizacional da paz. Reparemos com a inteligentia ocidental pensa: temos guerra mundial, justificável, ideológica, verdadeiro confronto entre duas visões de mundo, quando um pequeno grupo de países cultos e ricos se desentende ou aparece um lunático qualquer, com um bigodinho mais ou menos ridículo; quando dois países, incultos e pobres, perdidos no meio de África ou da Ásia se digladiam, estamos perante um conflito regional perfeitamente estúpido, próprio de gente bárbara e miserável, que não pensa e apenas serve para azedar o lauto jantar de gente com tão bom coração (as pessoas “sensíveis” de que falava Sophia de Mello Breyner). Na verdade estas são guerras muito úteis e produtivas para as grandes economias pacifistas e moralistas. Todas elas “lamentam imenso” estas tristes cenas que matam tantos inocentes! E o lamento aumenta ou diminui conforme a projeção mediática do evento.
No meu entender o ponto fundamental da paz não é alcançá-la ou possui-la. O essencial é saber o que fazer com ela.
Mais tarde ou mais cedo, os povos percebem a estupidez da guerra ou apenas cansam-se das fúteis divergências que os separam e estendem as mãos. O problema é que uma paz sem substância não dura muito. Quando não sabe o que fazer com ela, o Homem volta a fazer a única coisa que aprendeu: disparar uma arma. Algo parecido acontece com aqueles que ruminam uma paz mole e desinteressante que facilmente relativizam e desdenham.
A paz é a base sobre a qual as sociedades assentam a sua organização. Os povos inteligentes aproveitam para construir o progresso e os indivíduos partem em busca do Santo Graal da felicidade.
O importante não é desejar a paz, o importante é fazê-la. Construir a paz é criar acesso à educação para todas as crianças, é proporcionar oportunidades de trabalho aos adultos, é permitir que os velhos cumpram os últimos anos de vida com dignidade.
Querer a paz não é recusar vender armas a países em conflito, mas sim deixar de as produzir. Querer a paz é acabar com a cultura do medo e da coação. Querer a paz é contribuir para a formação de médicos, professores e engenheiros no Quénia, no Gabão, Geórgia ou na Índia, sem pensar no petróleo ou nos diamantes que estes países não têm.
Este foi o sonho de Gandhi e de Mandela. Cumpriram-no parcialmente. Hoje todos nos curvamos perante as suas memórias, mas que líderes mundiais querem ser seus sucessores nos corações das pessoas? Quem quer tornar o seu povo o primeiro prémio Nobel da Paz coletiva?
Almejar a paz é incentivar a diferença de opinião, conviver com diversas opções ideológicas, sociais, religiosas ou sexuais, sem querer impor a nossa, ainda que isso seja fácil de alcançar.
A paz não pode ser mais uma ideia doce de Natal que se extingue depois da noite de Reis, não pode ser um like no facebook ou praticar-se quando o peso da culpa é insuportável.
A paz só será o sonho real dos povos quando se tornar o ar que cada indivíduo respira.