Nelson Mandela morreu esta quinta-feira aos 95 anos DR |
Esta semana, os Presos na Rede honram Mandela. A sua vida em datas que devemos lembrar para não esquecer o que de mais importante ele nos deixou, a liberdade.
1918 - Nascimento em Mvezo, no Cabo Oriental, com o nome de Rolihlahla Dalibhunga Mandela. Quando tinha dois anos, o pai fica desapossado das terras, por desafiar a administração colonial e a família muda-se para uma casa na pequena vila rural de Qunu, onde Mandela passa a infância e onde pediu para ser sepultado. Quando tinha sete anos, um professor da escola primária deu-lhe o nome de Nelson, pois o costume era dar a todas as crianças nomes cristãos. O futuro Presidente da África do Sul fica então com o nome: Nelson Rolihlahla Mandela.
1942 - Começou os contactos com o Congresso Nacional Africano (ANC), movimento de libertação nacional da África do Sul criado em 1923 e completa a licenciatura em Direito pela Universidade da África do Sul (UNISA). Dois anos depois, Mandela junta-se formalmente ao ANC e torna-se um dos fundadores da Liga Juvenil do partido.
1944 - Casou-se com Evelyn Mase. O casal não resistiu às frequentes ausências de Mandela e ao crescente envolvimento na luta e acabou por se divorciar. Com Evelyn, Mandela teve quatro filhos, dos quais apenas a mais nova, nascida em 1954, ainda vive e a quem o casal dá o nome de Makawize. Os dois filhos Thembekile e Makgatho morreram já adultos. O primeiro num desastre de carro (na prisão Mandela não recebeu autorização para assistir ao funeral), o segundo foi vítima de sida.
1952- Abriu o primeiro escritório de advogados negros na África do Sul com Oliver Tambo, que é, como Mandela, uma figura central do ANC. O aumento das tensões e o crescente envolvimento na luta anti-apartheid acabaram por afastar da advocacia os homens forçados ao exílio, no caso de Tambo, ou à clandestinidade, no caso de Mandela. O escritório Chancellor House em Joanesburgo é vandalizado e queimado em 1960, ano em que o ANC é banido e o estado de emergência imposto na África do Sul.
1958 - Casou-se com Nomzamo Winnie Madizikela, enfermeira, política e ativista sul-africana, que passou a usar o nome de Winnie Mandela. Tinham 18 anos de diferença. Com ela, Mandela teve duas filhas: Zenani nasceu em 1959 e Zindzi em 1960. Foi Winnie quem o acompanhou na saída da prisão. Não é claro quando se dá a rutura. Uma das razões terá sido a tendência de Winnie para atos violentos na luta contra o apartheid. Em 1991, depois de Mandela a apoiar incondicionalmente, Winnie é condenada pelo rapto de quatro jovens de quem se suspeitava serem informadores da polícia, e o seu guarda-costas, Stompie Moeketsi, é acusado das suas mortes.
1960 - Foi uma das milhares de pessoas presas depois do Massacre de Sharpeville a 21 de março quando a polícia sul-africana mata 69 pessoas entre os manifestantes que protestavam contra novas leis do regime segregacionista no Soweto.
1961- Entrou na clandestinidade, adotou o nome de David Motsamayi e criou o Umkhonto we Sizwe – A Lança da Nação (MK) do qual foi primeiro comandante-chefe e que permitiu ao ANC passar à luta armada. Passou vários anos na clandestinidade antes de ser preso, tornando-se uma figura conhecida, mas invisível. No dia em que foi libertado, muitos sul-africanos e sobretudo os mais jovens, nunca tinham visto o herói do ANC.
1962 - Deixou o país para receber treino militar e recolher apoios externos para o ANC. O movimento tinha sido banido dois anos antes quando também foi instaurado o estado de emergência. Quando regressou, foi preso por incitamento ao ódio e por sair ilegalmente da África do Sul.
1964 - Foi acusado de sabotagem e condenado a prisão perpétua no Julgamento de Rivonia juntamente com sete outros destacados ativistas. Os oito condenados foram levados para a cadeia de máxima segurança de Robben Island ao largo da Cidade do Cabo. Antes do julgamento, enfrentavam a possibilidade de pena de morte. No tribunal, em sua própria defesa, Mandela pronunciou o célebre discurso Speech from the dock em que disse: “O ideal de uma sociedade democrática e livre é um ideal para cuja concretização espero viver. Mas, se for necessário, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer.”
1982 - Foi transferido para a prisão de alta segurança de Pollsmoor onde ficou seis anos. Aí é colocado sozinho numa cela e inicia contactos com o Governo.
1985 - Ainda em Pollsmoor, rejeitou a oferta de P. W. Botha – Presidente da África do Sul entre 1978 e 1989 – de o libertar se ele renunciar à violência. Só aceitaria a libertação se todos os outros presos políticos também o forem e se o ANC for legalizado, o que viria a acontecer cinco anos depois.
1990 - Foi libertado no dia 11 de fevereiro da prisão de Victor Verster perto da Cidade do Cabo. No discurso que nesse mesmo dia pronunciou, dirigiu-se aos amigos, camaradas e companheiros sul-africanos a quem disse estar em frente a eles “não como um profeta, mas como um humilde servidor do povo”. No dia seguinte, deu uma conferência de imprensa na residência do arcebispo Desmond Tutu, e disse que o que mais o surpreendeu, na véspera, foi ver tantos brancos, juntos nas ruas com os negros, a festejar a sua saída da prisão.
1993 - Recebeu o Nobel da Paz com o Presidente sul-africano Frederik Willem De Klerk. No discurso de atribuição do prémio, o presidente do comité do Nobel elogiou o “brilhante contributo” dos dois líderes para a paz e “os resultados espantosos” alcançados “com a política de paz e reconciliação” de ambos.
1994 - Votou pela primeira vez na vida, aos 75 anos, nas primeiras eleições livres no país, a 27 de Abril e foi eleito primeiro Presidente negro pelo Parlamento onde o ANC conquista uma ampla maioria. Apesar das ameaças de violência, as eleições realizam-se num clima globalmente pacífico.
1998 - Casou-se no dia do seu 80º aniversário com a moçambicana Graça Machel, viúva do ex-Presidente de Moçambique, Samora Machel, na presença da família, pouco mais de uma dezena de amigos e um fotógrafo.
1999 - Deixou a presidência do país no fim do primeiro mandato como Presidente, já depois de em 1997 deixar a liderança do ANC que assumia desde 1991. O seu vice-presidente Thabo Mbeki avançou para a chefia do partido e para as eleições de 1999, sendo eleito Presidente. Mandela tencionou dar espaço a uma nova geração de líderes e enviar uma mensagem clara aos Presidentes que se perpetuaram no poder em África. Continuou a sua atividade através da Fundação Nelson Mandela apresentada como forma de o líder continuar a sua contribuição para uma sociedade justa.
2004 - Depois de deixar a política, anunciou o fim da sua participação frequente em atos públicos. Pretendeu com isso passar mais tempo com a família e ter uma vida mais tranquila. Em 2007, fundou os Anciãos, organização internacional que reunia ex-governantes e figuras mundialmente respeitadas como Jimmy Carter, Desmond Tutu, Kofi Annan, Mary Robinson, Graça Machel, Martti Ahtisaari e Fernando Henrique Cardoso, entre outros. Em 2009, apoia publicamente o ANC de Jacob Zuma, que sucede a Thabo Mbeki.
2005 - Publicou a autobiografia Long Walk To Freedom, (Um Longo Caminho para a Liberdade), traduzida depois em dezenas de países. Começou a escrevê-la em segredo em 1974 na prisão de Robben Island, terminando-a já depois de ser libertado. O livro inspirou um filme lançado este ano, realizado por Justin Chadwick e que tem, no papel de Mandela, o ator Idris Elba.
2008 - Discursou no Hyde Park, em Londres, palco das comemorações do seu 90.º aniversário, num grande evento que juntou dezenas de músicos e artistas. Este grande concerto foi inspirado noutro a favor da sua libertação que, 20 anos antes, com o lema Free Mandela (Libertem Mandela), juntou em junho de 1988 músicos e artistas no estádio de Wembley, em Londres, e foi visto por 600 milhões de telespectadores em todo o mundo.
2010 - Apareceu pela última vez, num ato público, na cerimónia de encerramento do Mundial de Futebol no Estádio de Joanesburgo, ao lado de Graça Machel. Sorriu e acenou para as bancadas e a multidão levantou-se para o receber com entusiasmo, antes da final Espanha-Holanda.
2013 – Mandela deixou-nos. Que fique a sua luta, o seu legado, a sua liberdade.
Fonte: Jornal Público
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