ANABELA BORGES |
“Estive sempre atento às dificuldades dos meus alunos e mostrei-me sempre disponível às suas solicitações, quer dentro, quer fora da sala de aula. Neste sentido, junto dos Directores de Turma, recolhi dados sobre o contexto sócio-afetivo e económico dos alunos, procurando colaborar na resolução dos problemas que me foram apresentados, quer por evidência, quer pela minha própria intuição. Esforcei-me por considerar e integrar as intervenções de todos os alunos, valorizando-as sempre que foi conveniente, criando de forma contínua, em relação às dificuldades apresentadas, situações que lhes permitissem desenvolver a auto-confiança e o bem-estar face à escola e às aprendizagens, favorecendo a sua auto-estima. Em especial, recorri ao reforço positivo, elogiando e valorizando as respostas e determinadas atitudes dos alunos mais reservados ou inseguros.
As actividades a realizar foram, sempre que possível, negociáveis e, após a sua realização, avaliadas em conjunto, quer oralmente quer por escrito.
Foi desta forma que estabelecemos uma relação baseada no respeito mútuo, no diálogo, confiança, e na partilha de saberes.
Esta relação permitiu-nos trabalhar de forma mais eficaz, proporcionando um melhor conhecimento entre todos. Utilizei uma abordagem atenta, activa e preventiva, de forma a evitar o surgimento de conflitos e de problemas disciplinares. Assim:
Colaborei com todos os intervenientes no processo educativo, favorecendo a criação e o desenvolvimento de relações de respeito mútuo entre docentes, alunos, encarregados de educação e pessoal não docente, entre outras instituições da comunidade, para que a acção concertada entre todos pudesse conduzir ao sucesso escolar dos alunos e à promoção da boa imagem da instituição educativa onde trabalho;
Contribuí para a promoção do envolvimento da comunidade, da família e encarregados de educação, incentivando à participação nas actividades escolares e educativas dos seus educandos;
Intervim, sempre com ponderação e bom senso, na resolução dos problemas perante situações de conflito, dentro ou fora do espaço sala de aula.
Estabeleci, portanto uma boa relação com toda a comunidade, baseada na partilha de saberes, projectos e interesses socio-culturais. Cumpri os objetivos que defini e foram definidos para este ano lectivo”.
Mas, ó, maresia de enganos, necessária solicitude, ó, quantos itens por cumprir, quanta pena guardada, durezas da vida, batalhas perdidas!
Quantas vezes, professor, te sentiste impotente para agir? Quantas vezes simplesmente não pudeste fazer nada, ou o que fizeste de nada serviu? Quantas vezes abafaste a tua voz? Quantas vezes, um sorriso mal disfarçado? Quantas vezes, uma dor inexplicável por palavras? Quantas vezes rejeitado? Ignorado? Quantas vezes (quase) inútil, não fossem alguns alunos (porque sempre os há) a olharem-te com a avidez de quem busca a aprendizagem?
Quanta má-criação aturaste? Quantas penas reprimiste?
Quantos alunos tiveram dificuldades de aprendizagem, mas, na sua turma, era entre 30, e tu pouca atenção lhe deste? Mal te conseguias movimentar na sala preenchida de mesas, cadeiras, alunos? Quantas vezes ficaste a falar com aquele aluno que te fez um desabafo no fim da aula, e, mesmo assim, sentiste que o que disseste (ou fizeste) pouco resolveu?
Quantas vidas duras (famílias!) te passaram pelas mãos e do pouco que fizeste lamentaste?
O teu tempo, professor, é um tempo de dúvidas intermináveis.
“O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora;” – Camões, Sonetos.
Ó, professor, quanto ficou, mais uma vez, por fazer no teu TPC quase impossível?
Ó, professor, quanto ficou, mais uma vez, por fazer no teu TPC quase impossível?
Crónica bem elaborada, a merecer alguma reflexão sobre o papel do professor e como nos deve merecer todo o apreço. Parabéns, Anabela Borges, e que sinta muitas alegrias na função docente.
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