segunda-feira, 19 de outubro de 2015

DAS PALAVRAS ÁCIDAS - QUANDO O BOATO IMPERA

“Com finas roupagens o boato infiltra-se, corrói, alicia, destrói e, impassível, constrói uma realidade palpável de factores intimidantes, dissuasores, opressores de variados sabores e diferentes cores.

Com fino trato ou calão, segue de mão em mão e cresce, cresce… até que encontra a companhia e enamora-se. Em simbiose perfeita congregam vontades, potencializam estratégias e o poder surge com fausto e espavento. Pobre em talento, é porque é. Assim fortalecido agride os diferentes. Colado à escuridão promete e tira o pão. Senhor do mundo espelha o terror.

Neste jogo do faz de contas vacilam os incautos, ponderam os tementes, ousam os fazeres do Boato. Em tal chinfrineira, quem toma a dianteira? O Boato? A Companheira? E viverão felizes para sempre?”

Martins de Sousa, pensador

ALVARO GIESTA
À guisa de crónica, fingindo estar a escrever para quem me (não) lê, que os de boa audição me escutam, recordo por vezes certas coisas que, com muita mágoa reconheço pecado e da “mea culpa” me penitencio, que indulto não peço.

Acodem-me à memória certas injustiças feitas, umas com maior razão que outras, que indignam muitos: os que não estão por dentro do que as motivou e ousam pronunciar-se, sem conhecer a realidade dos factos, posicionando-se sempre do lado de onde pensam poder tirar maior proveito movidos pelo interesse e pelo “habitué” da escova e graxa, mas também pela (má) influência de terceiros que, seguramente, só conseguem viver alimentando-se da intriga e alimentando-a com o seu próprio veneno de língua viperina e suja; e os que, não conhecendo esses reais factos, se calam, cobardemente, sem emitirem qualquer juízo de valor, mesmo que seja o mero argumento jurídico“in dúbio pró réu”, com medo da retaliação desses outros tão hábeis na condução de conflitos, quase contribuindo para a ajuda do esticar da corda que contém o laço, à volta do pescoço pronta a estrangular o nó de Adão do desgraçado que teve a desdita de se aproximar do fruto proibido. E à memória me assaltam, também, certas difamações caluniosas que, dia a dia, são o objectivo daqueles que delas se servem para vingar na vida, fazendo do atropelo do seu semelhante o seu“modus vivendi” para vencer, que de outro modo não sabem. Falta-lhes o saber ser com honestidade e verdade, valor que deveria ser herdado do berço que não tiveram à nascença.
Uns, com os seus gritos furibundos e na posse de (duvidosos) factores de opiniões e crenças, vertem o fel do boato que aguça o gume da maldade com vista a tornar-se o mais poderoso elemento do progresso humano. As suas paixões, poderosas, facilmente se tornam colectivas, e alteram, mais das vezes, a justeza das opiniões, impedindo de ver as coisas como elas são na realidade e de compreender a sua génese. Vestem-se de finas roupagens, imiscuem-se com o boato, que corrói, constroem dele uma (falsa) realidade palpável de factores dissuasores que intimidam e que oprimem.
Outros, por preguiça mental, inércia ou medo de retaliações, não cuidam saber da realidade dos factos, o que tem como principal inconveniente a conivência, tácita, da proliferação da injustiça, pois que, das opiniões baseadas em explicações erróneas e distorcidas, admitindo-as como verdadeiras e definitivas, não se atrevem a procurar outras. Porque, procurar conhecer entre o verdadeiro e o falso - fazer uso dessa faculdade com que o homem discorre, julga e se distingue dos outros animais -, dá trabalho e incomoda muita gente. Esses apóstolos ferventes e fervorosos do boato negam-se, à partida, a procurar a verdadeira verdade admitindo, como certas e válidas, as premissas falaciosas que lhes contam nas costas dos injustiçados. Tanto mais gravosos quando estes têm cargos de chefia e poderes de decisão.
E depois ainda há os restantes que se escondem cobardemente, por detrás da sombra que disfarça o medo e furta a coragem de vir à liça defender o justo. Porquê? Simplesmente porque lhes interessam ter um reino de medo, de calúnia e boato… simplesmente porque lhes interessam ter o rastilho que propaga o fogo e faz detonar a bomba… simplesmente porque também engordam do veneno que lhes corre nas veias… simplesmente porque se defendessem a verdade, ficariam rapidamente sem assunto para alimentarem a intriga. E os boatos crescem de tal ordem que acabam em verdade o que na realidade é mentira.

Mas pior que todos estes, são aqueles que com as suas palavrinhas de “putas mansas” inebriam, com o boato e a mentira, quem tem o poder da decisão e que, levados no canto da sereia, se deixam influenciar e decidem mal. Junta-se o fel ao veneno e transborda a taça. Coitados destes! São fracos chefes! Serão, no futuro e sempre, chefes de nível zero.

Se aos primeiros lhes falta a dignidade para se saberem guindar na vida pelo seu valor e, cobardemente, ferem e matam com o aço afiado e frio do boato e da calúnia, os segundos cavam a sua própria sepultura levados pelo canto inebriante da sereia que vomita a mentira, encoberta pelo veludo macio das palavras meladas e melodiosas da diva, pois à hora menos pensada“transforma-se o amador na coisa amada”. Estes, serão o Salvador Allende atraiçoados pela ambição política daqueles, os ditadores Pinochet, a quem o primeiro deu a mão. Resta a estes últimos, aos tais chefes que preferem o “ouvi dizer…” sem a coragem de por o dedo na ferida de quem a tem, o poder do padre que lhes ministre o sacramento da extrema-unção.

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