segunda-feira, 29 de junho de 2015

SOL, SARDINHAS E “SILLY SEASON”

CLARA CORREIA
Se a Vida, a colectiva e a pessoal, é feita de ciclos, estes nem sempre são percepcionados por nós, sujeitos a reboque da rotina, mais ou menos monótona, com mais ou menos dissabores, a que estamos sujeitos. Já dos ciclos sujeitos à sazonalidade, guardamos, geralmente e com especial facilidade, as referências que nos conduzem àquelas memórias quase sempre protagonizadas por celebrações de datas festivas, como o Natal, ou por circunstâncias sazonais, como as férias de Verão. Portugal tem como fado ser, nas memórias de quem nos visita, o “país do Verão” … é-o na tradição dos nossos emigrantes, os das vagas anteriores às das recentes vagas de jovens pela “crise” empurrados “lá para fora”; é obrigatório o nosso Verão para nós próprios, sazonalmente, assim, mais próximos do espírito da “silly season” ostentado pelos veraneantes nórdicos e de países onde o sol quase não ostenta a sua coroa de astro – rei.

Entra Junho, entram os Santos Populares, à cabeça Sto. António, pelo nosso popular e anual portal de partida para um Verão deliciosamente aromatizado, ou não cheirasse, e bem, a Lisboa e, já na segunda quinzena, a Porto, que se perfuma a preceito para a recepção nocturna, madrugada dentro, ao S. João. Se a conquista de alguns homens (e mulheres também) se faz pela boca, todo um povo é conquistado pela sardinha, deitada no pão ou recostada no pimento, a seduzir (só a lusa alma sabe como) o paladar colectivo nacional e, pelo que se observa nas ruelas debruadas a manjerico e animadas por bailaricos, são de várias nacionalidades os paladares que se deixam seduzir por ela, a “Sardinha linda!” no pregão que, ande ou não esquecido, não o esquece a tradição! Assim, vamos “indo” … no “ir” tão caracteristicamente nosso, mas de andar muito mais airoso em tempo de estio!

O nosso Verão, tal como o nosso Fado, deveria ser Património Imaterial da Humanidade ou, pelo menos, constar no “Guinness”, por ser, certamente, recordista na extensão costeira de muito cobiçadas, de tão preciosas, praias!

2 comentários:

  1. Gostei. Parabéns. Abraços aqui do Brasil.
    At. Escritor ADhemyr Fortunatto

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  2. Crónica ligeira e agradável de ler, por destacar - sem uso de prolixidade - as coisas boas e simples que a vida nos eferece e que teimamos em torná-las tradição. Quanto às festas dos santos populares e, particularmente, o São João de Braga, vejo sempre uma animação e uma alegria genuína estampada nos rosto dos participantes nos inúmeros eventos e nos visitantes, a deixar a vontade de regressar no próximo ano. Quanto ao "guiness"... constará certamente o consumo de 13 sardinhas por segundo durante o ido mês de junho. Um abraço, Clara Correia.

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