quinta-feira, 25 de junho de 2015

DEDICADO A UM POETA DE FREGIM, JOSÉ DINIZ

HÉLDER BARROS
O Sr. Diniz, como eu me habituei a apelidar em miúdo, era visita frequente da família do meu falecido pai, designadamente, da Casa da Cidreira em Fregim, onde gostava de falar e cultivar a amizade, com os meus Tios, Domingos e Justina, e, com o meu Pai, Justino Barros.

A freguesia de Fregim era até então, um local de marcado bucolismo, onde a agricultura e todas as artes a ela ligadas, marcavam de forma indelével toda a sua ecologia existencial e paisagem física.

O Sr. Diniz sempre me pareceu ao mesmo tempo, deslocado deste local, e, por outro lado, de forma paradoxal, ligado de forma quase umbilical a esta terra que se lhe entranhou na Alma e marcou toda a sua inquietação, no mais profundo âmago do seu ser.

Não falava como os demais, era mais sofisticado e profundo nos seus pensamentos, sempre delicado no trato, tudo nele contrastava com a rudeza de uma freguesia rural, cuja beleza tinha que ser procurada e descoberta, por almas mais sensíveis e atentas, como era o caso do Sr. Diniz.

Há uns tempos atrás, dei por mim a remexer os livros e escritos do meu pai e, inopinadamente, deparo-me com um livro de um Poeta de Fregim, com o título “Os meus primeiros versos”, que devorei de uma assentada, podendo confirmar a ideia que tinha do Sr. José Diniz.

A Freguesia de Fregim foi uma fonte de inspiração para este Poeta que, como todos os Homens da escrita, são inspirados por paisagens, acontecimentos, atos humanos, que são considerados banais para o comum dos mortais… mas, para os Poetas não, eles vão sempre mais fundo, vão mais longe que o alcance dos sentidos humanos, a sua sensibilidade remete-os para viagens diferentes, mais ligadas aos caminhos insondáveis das Almas!

Agora que estamos em alturas de apertos financeiros, mas ainda restam reservas monetárias para espólios culturais, urge sem dúvida tratar os acervos culturais que sobram, mas que nunca são demais para enriquecer o património cultural de uma terra. Na falta de quem se interesse, faço aqui um apelo às Escolas, para que façam uma recolha de todos os Poetas de Amarante, dado que, mesmo que aqueles que não são de nomeada, oferecem-nos com o fruto do suor do seu trabalho literário, uma profunda reflexão sobre as suas emoções sentidas, a partir do amor telúrico pelo chão que sempre pisaram e amaram.

O Poeta José Diniz pela sua curta, mas consubstanciada e qualitativa obra, merece ser relembrado, pelo menos, por Fregim e pelos Malteses. Ainda recordo os tempos em que, sendo eu ainda um miúdo tinha a oportunidade de ler as suas crónicas no jornal “Flor do Tâmega”, onde se referia muitas vezes a Fregim, e à ligação desta freguesia à Ordem de Malta. Que pena tenho eu de não ter acesso, hoje em dia, a essas crónicas que me deliciavam.

É dever de uma sociedade não deixar apagar e morrer as suas nobres tradições, a sua cultura, ainda que remotas no tempo e no espaço. Igualmente, os seus agentes de cultura que, muitas das vezes fizeram autênticos trabalhos literários, a troco de nada, apenas pelo prazer da escrita e pelo amor à Terra que os acolheu para nascer, viver ou morrer, devem ser lembrados e divulgados. Mas, nem o nome de uma simples Rua merecem, na recente classificação toponímica das freguesias… porquê, pergunto eu?!...

A título de exemplo, deixo aqui um Poema que José Diniz dedicou à sua Freguesia, Santa Maria de Fregim:

“À minha aldeia

Na minha aldeia solitária e triste,
Que o sol beija por entre os pinheirais,
Sagrado é para mim tudo o que existe,
E vós meus tristes olhos contemplais.

Sagrada é a paz da tarde que declina,
Pela vertente íngreme do Outeiro,
Sagrado é o terno rouxinol que trina,
Sobre o galho franzino do amieiro.

Sagrado é o chão que piso em passos leves,
Dentro e fora do povo e dos casais,
E aquelas orações doces e breves,
No silêncio das tardes outonais.

Sagrados são os raios de luar,
Que a enchem de luz em noites calmas,
E das fontes o doce murmurar,
Na solidão que envolve as nossas almas.

É a canção do regato cristalino,
Na melindrosa e eterna melodia,
E no alto da torre lá no cimo,
A cruz que o sol afaga todo o dia.”

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