GABRIEL VILAS BOAS |
Os santos populares são das festas mais portuguesas e mais genuínas que vivemos.
Oriundas do feliz casamento entre a religião e a tradição, souberam manter o espírito de folia ao mesmo tempo que se foram reinventado, de maneira a renovar a festa na transição das gerações.
Acontecem no verão, quando o tempo e a vontade nos expulsa do comodismo caseiro e nos traz para a rua. São elas que nos devolvem ao contacto com as nossas raízes, com os vizinhos que nem cumprimentávamos, com o prazer do convívio sem hora marcada.
Quase ninguém aparece porque “tem de ser” e vemos famílias, novos e velhos, pessoas de todos os estratos sociais a sorrir, a brincar, a comer a sua sardinha assada no pão ou no prato, de pé ou numa mesa improvisada no meio da rua.
São as festas populares que reúnem novamente as gentes da cidade, do bairro ou da rua, à volta do prazer de estar com o outro e da pequena brincadeira. Mantêm viva o orgulho da pertença a um grupo ou associação, nas marchas populares ou nas cantigas, fazem as crianças saltar as fogueiras e recordam a beleza da vida na magia do fogo-de-artifício.
Os santos populares são festas de comunidade, onde todos estão convidados, mesmos os desconhecidos. Rapidamente o convívio vence a timidez dos mais recatados e instala a doce descontração dos momentos alegres até que os corpos deem sinal de cansaço.
Apesar de toda a brincadeira e descontração, há tempo e inspiração para coisas mais artísticas. O povo anseia pelo desfile bairrista das marchas, onde a coreografia namora a música, esperando o consentimento das palmas. Os mais sonhadores derramam poesia nos manjericos à espera dos sorrisos das almas delicadas. Entretanto a banda toca para mais um passo de dança enquanto os pequenos nos surpreendem com outra marretada e o calor da noite pede mais um copo e dois dedos de conversa.
Como todas as coisas boas, a festa popular e santa também tem o seu fim. A sorte é que caminhamos (ou cambaleamos) para casa com a barriga cheia de alegria e folia, onde nos espera uma cama sem relógio para acolher um corpo cansado de satisfação.
Foi bonita a festa, pá!
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