quarta-feira, 6 de maio de 2015

“VIVO SIN VIVIR EN MI”

SARA MAGALHÃES 
Teresa de Jesus (Santa Teresa de Jesus) nasceu em Ávila no dia 28 de Março de 1515. Os seus pais tinham uma situação económica estável pela posse de terras e pelo comércio. Pelo lado materno, descendida de judeus convertidos: o seu avô foi processado pela Inquisição de Toledo em 1485, sendo obrigado a percorrer as igrejas de Toledo durante 7 sexta-feiras, levando um sambenito com cruzes. Apesar da oposição do pai, Teresa ingressou no convento carmelita da Encarnação de Ávila em 1535, e tomou o hábito no ano seguinte e professou em 1537. 

Pouco depois sofreu uma doença até 1542, ano em que se iniciou uma crise espiritual que durou até à quaresma de 1554. Deu-se nela uma completa transformação, a partir da qual não cessa de avançar espiritualmente através de experiências místicas extraordinárias.

Em 1560 resolveu empreender a reforma da sua Ordem, no que, desde o início deparou com uma forte oposição. A sua vida decorreu no contínuo aperfeiçoamento espiritual e numa atividade incessante de reformadora de conventos. 

À contemplação e à oração, pelas quais atinge alturas dificilmente compreensíveis, unia em si uma caridade incansável e um ânimo forte e ardente e neste contexto revela-se uma escritora genial: Libro de la Vida (1562); Camino de perfección (1562 a 1564); Libro de las fundaciones (1573); Moradas del castillo interior (1577), além de outros escritos menos extensos.

Mas o que me fascina mais nesta mulher, é sem dúvida, a sua experiência mística, traduzida nos seus poemas. A poesia de Teresa de Jesus chegou até nós através de um processo de transmissão textual completo e cheio de incertezas: por manuscritos feitos nos seus conventos por freiras que lhe escutavam os poemas ou os que os tinham escutado a outras, ou lido, manuscritos esses cujo conteúdo passava de uns conventos para os outros.

Mesmo que os poemas fossem escritos, tendo em conta as suas circunstâncias, como uma das atividades rotineiras e diárias dos conventos, ela pretendia imprimir um espirito de elevação. Para Teresa de Jesus, os seus poemas não nascem da inteligência, mas do sentimento, fruto duma atividade espiritual intensa ligada, aliada, algumas vezes, um transe místico. 

A personalidade de Teresa tinha duas faces, que se uniam para formar o seu rosto único: uma nascida da oração e da contemplação (a que correspondem os poemas de arrebatado misticismo), e a que se foi moldando nos caminhos confusos e difíceis dos homens, onde se lançou por amor aos outros, sem o qual aquela oração e aquela contemplação nada seriam ( que deu os poemas humildes escritos para servir os seus conventos).

Ler os seus poemas não é nem será em vão nem vazio, pois todos eles são obra dum espírito extraordinário e lê-los, para mim, será partilhar da grandeza do seu espírito.

Este é o meu poema preferido desta poetisa mística e também um dos mais conhecidos e causa em mim tamanha admiração pela forma como esta mulher, sendo do mundo, une e acolhe em si tão grande experiência espiritual.
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Vivo sin vivir en mi
y tan alta vida espero
que muero porque no muero.
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Vivo ya fuera de mi
después que muero de amor,
porque vivo en el Señor
que me quiso para sí.
Cuando el corazón le di
puso en él este letrero:
que muero porque no muero.
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Esta divina prisión
del amor en que yo vivo,
ha hecho a Dios mi cabtivo
y libre mi corazón.
y causa en mi tal pasión
ver a Dios mi prisioneiro,
que muero porque no muero.
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Ay qué larga es esta vida!,
qué duros estos destierros! (Santa Teresa de Jesus)

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