segunda-feira, 25 de maio de 2015

MAIO


ANTÓNIO PATRÍCIO e ANABELA BORGES
Os caminhos da minha aldeia, nos tempos da minha infância, eram debruados a amoras e flores silvestres. Estreitos, em terra batida, choravam quando, derreados sob o peso do trabalho diário e rude, se deixavam marcar pelas rodas dos carros e pelos cascos dos sofridos e silenciosos bois maroneses. Aqui e ali, como que a medo, lá aparecia um pé de morangos, uma erva-de-São Roberto que, com suas veias vermelhas, estendia os braços finos apontando, mais além, um hipericão que, de sorriso canário, chamava a atenção das obreiras abelhas. A natureza rebentava de cor e, um pouco por todo o lado, as melodias e danças nupciais levadas a cabo por um sem número de passarinhos, amenizavam a dureza e a rudeza do trabalho rural. Assim entrava Maio, explodindo de vida e cor, ao som das badaladas no velho sino, chamando para a reza do terço em honra da Virgem. No seu altar, rodeada de flores brancas, de olhar doce e ternurento, a Mãe de Cristo, no seu silêncio de pedra, ouvia as preces e deixava transparecer no sorriso dos seus lábios a paz e a alegria. O eco dos cânticos descia pelo vale e, lá bem no fundo, onde o Tâmega corre em vau entre salgueiros e freixos, fazia silêncio não fosse perturbar a inspiração ao Poeta. Maio, mês de rogações e promessas à Mulher que, um dia, disse SIM. 

Tardes de Maio

Tardes de Maio, Sol-posto,
Tardes de novena, às trindades,
Onde o beijo sabe a mosto
E a Lua leva as saudades.

Tardes de Maio, orações,
Tardes de novena, cantigas,
Sorrisos quentes, palpitações
E as gargalhadas das raparigas.

Tardes de Maio, trovoadas,
Tardes de novena, campainhas,
Filhas solteiras, enamoradas,
Ontem princesas hoje rainhas.

Tardes de Maio, choupos esguios,
Tardes de novena, passarinhos,
Chuvas fortes enchem os rios,
Caem das árvores os ninhos.

Tardes de Maio, incerteza,
Tardes de novena, cheia Lua,
Vem a menina fazer uma reza
Calcando sozinha as pedras da rua.

Tardes de Maio, de Maio,
Tardes de novena, novena,
“Uvas nascidas leva-as o gaio”
Chover no molhado, não vale a pena.

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