ANTÓNIO PATRÍCIO e ANABELA BORGES |
Os caminhos da minha aldeia, nos tempos da minha infância, eram debruados a amoras e flores silvestres. Estreitos, em terra batida, choravam quando, derreados sob o peso do trabalho diário e rude, se deixavam marcar pelas rodas dos carros e pelos cascos dos sofridos e silenciosos bois maroneses. Aqui e ali, como que a medo, lá aparecia um pé de morangos, uma erva-de-São Roberto que, com suas veias vermelhas, estendia os braços finos apontando, mais além, um hipericão que, de sorriso canário, chamava a atenção das obreiras abelhas. A natureza rebentava de cor e, um pouco por todo o lado, as melodias e danças nupciais levadas a cabo por um sem número de passarinhos, amenizavam a dureza e a rudeza do trabalho rural. Assim entrava Maio, explodindo de vida e cor, ao som das badaladas no velho sino, chamando para a reza do terço em honra da Virgem. No seu altar, rodeada de flores brancas, de olhar doce e ternurento, a Mãe de Cristo, no seu silêncio de pedra, ouvia as preces e deixava transparecer no sorriso dos seus lábios a paz e a alegria. O eco dos cânticos descia pelo vale e, lá bem no fundo, onde o Tâmega corre em vau entre salgueiros e freixos, fazia silêncio não fosse perturbar a inspiração ao Poeta. Maio, mês de rogações e promessas à Mulher que, um dia, disse SIM.
Tardes
de Maio
Tardes
de Maio, Sol-posto,
Tardes
de novena, às trindades,
Onde
o beijo sabe a mosto
E
a Lua leva as saudades.
Tardes
de Maio, orações,
Tardes
de novena, cantigas,
Sorrisos
quentes, palpitações
E
as gargalhadas das raparigas.
Tardes
de Maio, trovoadas,
Tardes
de novena, campainhas,
Filhas
solteiras, enamoradas,
Ontem
princesas hoje rainhas.
Tardes
de Maio, choupos esguios,
Tardes
de novena, passarinhos,
Chuvas
fortes enchem os rios,
Caem
das árvores os ninhos.
Tardes
de Maio, incerteza,
Tardes
de novena, cheia Lua,
Vem
a menina fazer uma reza
Calcando
sozinha as pedras da rua.
Tardes
de Maio, de Maio,
Tardes
de novena, novena,
“Uvas
nascidas leva-as o gaio”
Chover
no molhado, não vale a pena.
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