JORGE NUNO |
Desde a minha juventude que me vejo como um homem que transpira positividade. Não é alheio o facto de dar importância à experiência de vida, que conta com seis décadas, sendo raras as vezes que fico a queixar-me. É que muito cedo aprendi algo da sabedoria milenar chinesa – um provérbio, que diz: “É melhor acender a candeia que queixar-se da escuridão” –. Como qualquer mortal, também vou tendo as minhas fraquezas, mas que procuro aprimorar, aproveitando as “quedas do cavalo para sacudir o pó e voltar novamente para a garupa do cavalo” o mais rápido que posso. Também não é alheio o facto de ser um leitor que tem sempre um bom livro por perto, como aconteceu com: “A Divina Sabedoria dos Mestres” de Brain L. Weiss, que aponta o amor como “a energia mais básica e, ao mesmo tempo, a mais universal” e dá pistas de como se encontrar o equilíbrio certo, colocando o amor no centro desse equilíbrio; “Energia Positiva – como livrar-se dos vampiros emocionais”, de Judith Orloff, considerando o USA Today tratar-se do “livro ideal para lidar com problemas profissionais, stresse e todas aquelas pessoas que nos sugam a energia”; “Inteligência Positiva – o novo quociente de inteligência”, de Shirzad Chamine, que segundo The Globe and Mail é “um método para combater as armadilhas mentais” e segundo a própria autora – docente e investigadora no campo da neurociência e da psicologia – “ao criarmos hábitos de pensamento negativo, criamos tendências de autossabotagem (…) que nos impede de atingir o verdadeiro e pleno potencial [intelectual e emocional]”; “Emoções Destrutivas e Como Dominá-las”, de Daniel Goleman, que dá algumas respostas, após um encontro de estudiosos budistas, filósofos, neurocientistas e psicólogos ocidentais com o Dalai Lama, sendo que uma das perguntas é: “Podemos aprender a viver em paz com os outros e com nós mesmos?”; Em “A Magia”, Rhonda Byrne revela ao mundo “ensinamentos transformadores. E, a partir daí, numa assombrosa viagem de 28 dias, mostra como aplicar esses ensinamentos à vida quotidiana [de qualquer um de nós]”.
Tenho reparado, ultimamente, na minha performance e fica a sensação de algum azedume, particularmente quando escrevo e depois releio as minhas crónicas. Não é fácil a convivência com a injustiça e com uma série de fatores que, com maior ou menor incidência, acaba por nos afetar e retira algum prazer nesta fabulosa viagem, que é a vida. Habituei-me a enfrentar os problemas com alguma elevação, muita ironia e até humor negro (sem qualquer conotação rácica), um humor avinagrado (sem pretender azedar ainda mais o tema abordado) e, naturalmente, gosto de escrever, pois sei que desta forma tenho a oportunidade de poder dar contributos para o despertar de consciências adormecidas.
O citado livro da Rhonda Byrne menciona e explora uma mensagem do Evangelho de São Mateus, que diz: “Pois, àquele que tem, ser-lhe-á dado em abundância. Mas àquele que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado”. A frase confunde e aparenta injustiça, pois parece querer dizer que os ricos ficarão ainda mais ricos e os pobres ficarão ainda mais pobres – o que em boa verdade está a acontecer neste e em muitos outros países. Este enigma fica descodificado se a frase for a seguinte: “Pois, àquele que tem gratidão, ser-lhe-á dado em abundância. Mas àquele que não tem gratidão, mesmo o que tem lhe será tirado”. Visto por este prisma, se parece que me estou a tornar velho… e ainda, por cima, rezingão, a aproximar-me do personagem “Grou – o maldisposto”, só há uma volta a dar: tornar-me grato, grato, grato! Dentro da positividade (mas também ironia) que me carateriza, vamos acreditar que este processo funciona e parto para o terreno retirando a carga negativa do que me apoquenta:
1 – Estou grato pelos pescadores portugueses da sardinha, que depois de estarem tantos meses em terra sem poder pescar, após uma auditoria pela Intertek Moody Marine – um certificador independente – a sardinha capturada em águas portuguesas passa a estar certificada, podendo apresentar o rótulo ecológico azul do MSC – programa líder de certificação ambiental para a pesca selvagem –, quando puderem pescar. Obrigado;
2 – Estou grato pelo zelo dos deputados do Parlamento Europeu, que tendo problemas muito sérios para resolver, ainda conseguiram tempo para aprovar um documento que uniformiza as sanitas no espaço europeu, estando em crer que a partir de agora o ato de defecar, em igual utensílio a utilizar por pobres e ricos, ficará mais suavizado. Obrigado;
3 – Estou grato por terem sido mandadas abater muitas dezenas de milhares de árvores afetadas pelo nemátodo, entre castanheiros, cerejeiras, pinheiros e outras árvores resinosas, na região transmontana, e estou grato por uma equipa de investigadores franceses ter descoberto que o nemátodo pode ser atacado através de infeção viral. No primeiro caso, até pode ser que finalmente origine o reordenamento da floresta, reduzindo a proliferação de incêndios. E, quem sabe, até algum iluminado descubra como repovoar a Terra Fria com tamareiras, que dão um fruto que adoro. Obrigado;
4 – Estou grato pela intenção do governo português em adquirir o navio polivalente logístico francês “Siroco”, por responsável da Marinha Portuguesa não saber de onde vêm os 30 milhões para a compra, para depois se afirmar que estão “acomodados” em termos orçamentais e que a compra é uma oportunidade e, ainda, pelo Ministério da Defesa já ter garantido os 80 milhões necessários, mesmo sabendo-se que o navio terá um gasto diário de € 22.000, a navegar. Prova-se que afinal o Estado está mesmo de cofres cheios. Mas se alguma coisa não correr conforme o previsto, sempre pode ser colocado na doca seca da Margueira, ao lado do submarino “Barracuda” e da fragata “Dom Fernando II e Glória”, rendendo uns cobres. Obrigado;
5 – Estou grato pela atual tosse persistente – um reflexo natural do meu fabuloso aparelho respiratório, perante uma irritação – facto que é benéfico, pois ajuda a expulsar, quase a 100 kms por hora, secreções indesejáveis ou corpos estranhos, impedindo que se alojem nos meus pulmões. Obrigado.
Segundo a Rhonda Byrne, deveria fazer uma lista diária de 10 bênçãos, durante os 28 dias, mostrando a minha gratidão – o que seria facílimo – mas apenas quero mostrar que o método funciona e que podemos ser mais simpáticos e menos rezingões.
Para o trabalho ficar completo, só me falta dizer três vezes: Obrigado, obrigado, obrigado.
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