MIGUEL GOMES |
É comigo que o silêncio
fala,
escuto
ainda que não o ouçam
os pobres olhares que
dizem nada terem a ver.
Vidradas
as luzes bruxuleiam-se ao
tecto
para se derramarem sem
cuidado
nas noites que tentam iluminar.
Enquanto na caverna temem
a vida vivendo
cá fora acautela-se e
emoldura-se o vento
e até a estupidez se
cala,
porque ao longe vem o
silêncio
e é comigo que ele fala…
Ainda que me doa
o acordar
é pelo sonho que me vivo,
no momento de me ter escrito
separar o vulgar
de um sopro inaudito
cá te almejo por entre
mim
fugindo
do destino que soçobra
altivo,
és planeta que se expande
num botão de Universo que
plantei no meu jardim.
Intriga-me a quietude do
silêncio
o amadurecer do êxtase
a órbita orbitada
inefável
pela noite (sempre,
sempre a noite)
que se desliga do mundo
para se ligar
à vida (sempre, sempre a
vida)
enquanto as perolazitas a
que chamam estrelas
rebolam e se enfiam olhos
adentro
como se os dias chorassem
para dentro de nós.
Que me lembre, sempre,
eu, de ser pobre,
adormecer desnudado de
mim,
de não distinguir ouro de
cobre,
mundano
contra o vil, espartano,
cair por olhar as
estrelas
e seguir adiante, ainda
que ignorante
do brilho soçobrante das
velas,
no meu destino pelo infinito,
errante.
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