SARA MAGALHÃES |
(O Homem e o seu percurso na história)
A realização profunda do Homem faz-se num determinado tempo e espaço, concretizando assim a sua história. Assim sendo o caminho ou o “caminhar”, ou ainda melhor, o “peregrinar” é uma experiência primordial que permite ao homem libertar-se do ponto de partida para alcançar novas áreas e metas. Assim acontecia no povo nómada, constantemente à procura da sua identidade de lugar em lugar, de destino em destino.
Citando Kalil Gibran “Nunca a aurora nos encontra onde o poente nos deixou”. É este o lugar do Homem peregrino, do homem constantemente a caminho, do Homo Viator. Esta é uma tendência natural do ser humano se realizar no tempo e na história, é o compromisso fiel de uma busca permanente, e da realização das coisas mutáveis em si como bem ilustra o nº54 da Gaudium et Spes “Ver as coisas pelo aspeto da sua mutabilidade”.
Poderíamos assim dizer que o Homem é com aquilo que o rodeia, mas acima de tudo pelo caminho que percorre, e desse caminho vai recolhendo formas, odores, cores e sensações, descobrindo assim a mutabilidade do espaço exterior. Esta exterioridade mutável vai naturalmente condicionar, ou melhor, vai formalizar o espaço interior, e será certamente nestes dois espaços –interior/exterior- que o Homem itinerante realizará a sua história.
É na conceção histórica do ser humano que compreendemos o lugar de ação do Homem para transformar o mundo. E neste espaço ele não se limita só a transformar mas também e acima de tudo a compreender, a interpretar e a dar-lhe sentido. Assim, entendo que o Homem é ser temporal, mas incapaz de se compreender num só momento. Daí a necessidade da sua compreensão numa sucessão de tempos: evolução e edificação com a história.
Disto se depreende a sua necessidade de se abrir para à fluente dinâmica da História, tendo necessariamente que agir, imprimindo nessa mesma história com o seu próprio punho caracteres indeléveis. Para tal associa-se a necessidade de uma medida de espaço: o Tempo.
A temporalidade significa que o Homem seguindo a sua maneira de ser usufrui do tempo e é gasto pelo tempo que habita. Podemos dizer que coabita no tempo, “temporizando-se”.
“Sim
sou o Tempo! No espaço
Consigo a tua evolução;
Sou eu que faço e
desfaço
P’ra tornar a construir.
O meu fim é atingir
Deste mundo a perfeição.
Saibas que neste
processo
De fazer e desmanchar,
Consigo, com paciência,
Encontrar o teu
progresso,
Onde vou também buscar
Razão para a tua
existência.
Este excerto do “Auto da vida e da morte” de António Aleixo deixa entender com perfeição a necessidade do espaço temporal para realização do Homem. O Tempo da evolução no caminho para a perfeição, para a transcendentalização do ser em si mesmo: o segredo do progresso, o caminho peregrinante para dar razão à existência.
A humanidade não poderá nunca separar-se do tempo e da história pois é neles que inscreve o seu caminho: o Homem para além de se inserir num determinado tempo também se realiza na história, para escrever no tempo a sua própria história.
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