“É mais fácil reconciliar a Europa inteira do que duas mulheres.”.
(Frase atribuída a El-Rei D. Louis XIV, O Rei-Sol; séc. XVII)
ANABELA BORGES |
Malgrado esta frase, atribuída ao Rei-Sol, o absolutista Louis XIV, eu direi, por agora, que um dia inteiro dedicado a Versailles sabe a puco.
Manhã: passámos pela boulangerie para aprovisionar o almoço. Gostamos de fazer piqueniques, por isso, sempre que nos é possível, nestes passeios mais apressados, levamos qualquer coisa para comer.
De seguida, estávamos a ver o mapa dos transportes (metro e RER) e logo uma simpática senhora veio ter connosco para nos ajudar. Partimos então em direcção a Versailles, Chantiers. Durante o percurso de comboio, fomos presenteados com uma banda Jazz e ao som da música, rapidamente chegámos a Rive Gauche, a estação mais próxima do castelo.
Para escapar às multidões, durante a manhã, fizemos a visita aos jardins e ao parque. É um passeio maravilhoso, com as fontes cantantes, fontes musicais. Fizemos um agradável passeio e foi por lá, pelos jardins que almoçámos, tendo por companhia os gatos esfomeados. Havia gatos gordinhos, habituados a receber comida dos turistas. Chamámos-lhes os gatos perdidos de Versailles, e à gatinha que permaneceu por mais tempo à nossa beira chamámos a Marie Antoniette.
Inscritos como Património Mundial da UNESCO, os jardins, o parque e o Palácio de Versalhes, sussurram as eras passadas, a cada canto, a cada gorgolejar, a cada sombra, a cada brilho.
Verdadeiro museu ao ar livre, que vale a pena conhecer, os jardins apresentam um rico acervo de estátuas de mármore branco, conjuntos esculpidos e vasos. O espectáculo de Verão, Les Grandes Eaux Musicales, oferece uma forma ímpar de conhecer as fontes, os bosques e as suas águas que jorram ao som da música barroca.
Deixámos para a tarde o interior do Castelo de Versailles.
A visita ao castelo é imperdível, sobretudo pelos Grandes Apartamentos do rei e da rainha e a Galeria dos Espelhos.
O mundo actual pode ser muito expressivo:
Mais uma vez, multidões de japoneses e chineses deambulavam pelas salas, desesperados por fotografar tudo, e numa correria louca. O melhor é deixá-los para lá, e seguir calmamente ao nosso ritmo. Foi o que fizemos, e desta forma conseguimos apreciar tudo com mais vagar, desde os mármores do chão, às paredes forradas de veludo, às grandes lareiras, telas e tapeçarias, e aos frescos dos tectos. Não fosse assim e, culpa dos turistas esgrouviados-doidos-perdidos-que-nem-zombies, não teríamos a possibilidade de apreciar a nossa visita, pareceríamos prisioneiros de uma multidão sem poder recuar, avançar ou fugir. Só assim, mantendo-nos nos nosso ritmo, ignorando um pouco a ligeireza, a pressa, a maluqueira de outros turistas em passar-correr-sem-ver, pudemos aproveitar as maravilhas do castelo com tranquilidade.
Da janela central da Galeria dos Espelhos estende-se, sob o olhar dos visitantes, a grande perspectiva dos jardins de Versailles que conduz o olhar desde a plateia de água até ao horizonte. É bom não sermos uns daqueles turistas esgrouviados-doidos-perdidos-que-nem-zombies, pois, de outra forma, não teríamos tido a possibilidade de descortinar estas tão belas vistas.
Só assim pudemos apreciar a imponência de um espaço construído ao capricho de uma corte extravagante; um rei excêntrico absolutista; uma rainha-mártir, apelidada de “L'Autre-chienne” (um trocadilho em francês das palavras “autrichienne", que significa "mulher austríaca" e autre-chienne, que significa "outra cadela"). É preciso conhecer o passado para tentarmos compreender o que somos hoje.
Eu sou da opinião de que devemos sempre dar graças pelas graças que nos são concedidas. Então, outra das dessas graças do dia (e desta nossa viagem a Paris) foi podermos visitar um familiar que trabalha em Versailles. Pudemos conhecer o lado rural de Versailles, que é bem interessante, com campos verdejantes e variadíssimos desportos ao ar livre (golf, ténis, equitação…); pudemos visitar a casa onde mora, o lugar onde trabalha. Foi uma bênção para nós, podermos ver que tudo está bem com esse familiar, mais um português (este, professor) que se viu conduzido para fora, a engrossar a malha da emigração.
O regresso foi feito de comboio até à estação onde param e arrancam os TGV. Depois de andar a pé durante cerca de 10 minutos em espaço subterrâneo, que nem toupeiras, em enormes tapetes rolantes, de aspecto futurista, em linha recta, apanhámos o metro de regresso ao centro de Paris.
Este foi um dia maravilhoso, de se lhe tirar o chapéu!
Aspectos positivos: Vale a pena comprar o “Paris: Museum Pass”, que, além de ser bastante acessível em termos monetários, permite passar as filas mais longas para um acesso a pessoas com bilhete pré-comprado.
Aspectos negativos: As filas para visitar o Palácio são imensas e muito demoradas (sem dúvida, a fila mais longa que apanhámos, mesmo com o “passe”, já que era ainda mais demorado para quem não o tinha). O número de casas-de-banho é claramente insuficiente para a quantidade de visitantes; as filas são imensas e demoradíssimas para ir à toilette.
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