terça-feira, 1 de setembro de 2015

SETE DIAS EM PARIS. DIÁRIO. DIA #2 (#Disneyland Paris)

Mundo perfeito versus mundo real.


FAMÍLIA BORGES LOPES
Quando vamos de viagem, é bom programar os momentos de diversão intercalados com as visitas culturais. Mesmo havendo duas filhas adolescentes apaixonadas por artes e arquitectura, convém assegurar que os dias não se tornem monótonos.

Partida de comboio: Gare de Lyon – Chassy (Disneyland); tempo: cerca de 40 minutos.

A Disneyland é um mundo de sonho e aventura. Uma grande fatia de gente, num determinado momento da vida, anseia por ir à Disneyland. 

Eu poderia dizer que (quase) todas as civilizações confluem para a Disneyland. Vimos indianos, chineses, japoneses, árabes, africanos, americanos, e gente dos diversos países europeus; até freiras italianas e monges budistas lá vimos. O que faz um grupo de monges budistas na Disneyland? Ou um conjunto de freiras? Não sei, mas estavam nas filas para os parques e diversões, tal como nós. A Disney é um mar de gente movendo-se numa paleta de cores: desde os jardins floridos e os castelos coloridos, às vestes indianas e às muçulmanas, ao laranja dos trajes budistas e ao azul (escuro-quase-preto) e branco das freiras, junto com toda a panóplia de vestimentas ocidentais. Que confusão!

Não deixa de ser curioso e estranho encontrar num só espaço tanta “raça” de gente. Dá para ver que a máquina dos sonhos move mundos, e move-se a dinheiro.

Na entrada dos parques, é feita a revista aos sacos e mochilas e logo que é permitida a passagem a cada pessoa, a máquina emite uma voz de mulher dizendo “entrée”. A máquina fazia essa suave respiração segundo-a-segundo: “entrai, entrai!”. “Entrai! Vinde a mim, ao mundo das ilusões. Deixai-vos iludir por nós, esse é o nosso trabalho, e deixai cá o vosso. A máquina de fazer dinheiro, à troca de sonhos e fantasias.

Estava um dia de muito calor, com valores acima dos 30 graus, o que nem é assim tão comum em Paris. Todos os funcionários são de uma extrema simpatia, vestindo a rigor, enjaquetados de veludos e cheios de laços e folhos, faça sol ou chuva, mesmo os que andam a apanhar lixo. Tudo a rigor, para que a ilusão do mundo perfeito seja a mais real possível.

Por todo o parque, há meninas, visitantes de todas as nacionalidades, vestidas de princesas. Havia brancas-de-neve de raça negra, e era lindo de se ver. E quando a princesa do filme “Frozen” passou, na avenida, airosamente sentada numa carrocinha puxada por um belo corcel, as crianças gritavam “Anna!, Anna!”, como se se tratasse da verdadeira personagem animada do filme. 

Quando se vai com duas filhas adolescentes, as diversões não ficam de fora. Pelo contrário! As diversões para jovens e adultos podem ser as mais marcantes da nossa vida no que toca a experiências desse género. Andar no famoso elevador do terror do hotel “Hollywood Tower” é uma experiência de ficar, literalmente, com os cabelos em pé; visitar casas de terror é um agradável susto de adrenalina a cada instante; participar nas aventuras dos “Piratas das Caraíbas” é uma peripécia refrescante (que, por acaso, calhou-nos muito a propósito, a seguir ao almoço); e o “Space Mountain Mission 2” é uma loucura que eu prometi a mim mesma nunca mais na vida repetir (bem, não vou explicar porquê pois poderiam ficar a pensar que sou uma cagarolas).

Ora, falávamos nós de nacionalidades, diferentes civilizações, e não haverá muitos locais onde se reúna assim tanto povo (qual peregrinação) para percebermos a falta de civismo. Havia, de facto, muito pouco civismo nas “ruas” da Disneyland. Não era propriamente nas filas para as diversões, aí as coisas até decorriam com a devida normalidade, também daria muito nas vistas, e seria muito complicado se assim não fosse. Era nas ruas. Com tanto espaço para andar, as pessoas empurravam-se, acotovelavam-se, não reparavam por onde iam, calcavam as flores dos jardins, deitavam lixo para o chão com os caixotes mesmo a seu lado, demonstravam arrogâncias de tempos ancestrais transportadas nos rostos de gerações; se bem que os árabes não olham ninguém nos olhos, sequer. E assistimos à triste figura de duas mulheres nórdicas que discutiram feio, na disputa de um lugar na avenida para assistir ao desfile “Magic on Parade”.

Feio, feio – o mundo espelhado no “mundo” da aventura, da magia, da perfeição.

Quando, lá mais para a noite, se gerou uma enorme confusão à porta da Gare de Chassy, para o regresso a casa, por falta de comboios, a minha filha mais velha, ironicamente, apontou para a Disneyland, dizendo “Vêem: aqui é o mundo real, ali é o mundo perfeito”. Voltámos para lá. Jantámos e regressámos de Táxi. Como o percurso demorou cerca de meia hora, deu para tirar uma última conclusão (embora o dia já fosse demasiado longo para conclusões): os franceses são um desastre na condução – não respeitam faixas de rodagem, sinais, ou passadeiras. Francamente, conseguem conduzir pior que os portugueses.

A ida à Disneyland foi, na verdade, muito divertida. Isso ninguém nos pode tirar. Foi um dia muito bem passado em família. Demos boas gargalhadas, como seria de esperar, e experimentámos boas doses de adrenalina.

Aspectos positivos: vale a pena passar um dia na Disneyland, em família ou com amigos: todos são muito simpáticos e a diversão é garantida. As filas de espera andam rápido, não custam nada.

Aspectos negativos: Não é permitido levar comida; a alimentação nos parques é muito dispendiosa, encarecendo muito a visita. Não há (não vi, em local algum) recolha selectiva do lixo (para as garrafas de plástico e os copinhos de café ou de gelado, por exemplo).

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