Gabriel Vilas Boas |
Quarenta e oito horas após os atentados de Paris, a Europa vai ganhando consciência do pesado simbolismo destes tristes acontecimentos. As mortes dos jornalistas do “Charlie Hebdo” trazem novamente à ribalta um problema por resolver e de que França será sempre o palco: a intolerância civilizacional. Há uns anos Sarkozy lançou o debate com a polémica proibição do véu islâmico, mas a sociedade francesa não apoiou cabalmente o seu presidente e o debate essencial ficou, no essencial, por fazer.
O aparecimento do Estado islâmico, durante 2014, aprofundou a deriva terrorista dos radicais islâmicos, perante o lamentável silêncio dos principais líderes mundiais do Islão, que preferiram (preferem?) esperar para ver. Os americanos reagiram tarde por causa dos seus homens, a Europa lamentou e foi só. Agora a França sangra onde mais lhe dói: a liberdade de imprensa e de expressão.
Se há coisa onde os franceses não transigem é no valor da liberdade. Não há interesse económico que os faça engolir sapos vivos e ainda bem que assim é. A liberdade de imprensa é um pilar fundamental dessa liberdade, não havendo cláusulas de exceção. O “Charlie Hebdo” era a expressão radical dum jornalismo ousado, polémico, provocador e… livre, por isso os franceses nunca hesitaram em defendê-lo. Firmes na sua convicção, os franceses arrastaram o resto da Europa onde a palavra tolerância não é apenas uma ideia bonita.
Fiéis aos seus valores fundamentais, os franceses não reclamam vingança e continuam a acolher aqueles que não aceitam a diferença. No entanto, essa generosidade não foi suficiente. Evocando a defesa da honra de Alá, um bando de radicais islâmicos assassinou o coração da liberdade, mostrando o lado negro duma fação do Islamismo. Podemos afirmar convictamente que o Islão “não é aquilo”, mas a verdade é que também é aquilo.
Aqueles homens mostraram que há uma fação do mundo islâmico que revela um profundo desrespeito pela vida humana. Lamento muito que os mais importantes líderes islâmicos não tenham percebido que nada faz pior à religião do profeta Maomé do que atos como os ocorridos em Paris. Como muito bem notou José Saramago, “Matar em nome de Deus é converter Deus num assassino.”
Os atentados de 7 de janeiro, em Paris são um desafio civilizacional enorme quer ao mundo islâmico quer à cultura europeia de tolerância e liberdade de expressão.
A tarefa dos Xeiques não é nada fácil: ensinar a tolerância num meio duma cultura intolerante, sob pena de tornar o islamismo uma religião odiada por milhares de pessoas, tal a sua permanente ligação a casos como o de Paris. Os chefes religiosos islâmicos precisam de fazer algo objetivo e claro, porque não fazer nada, não dizer nada é uma resposta errada, perante a urgência do momento.
A França tem de vencer o medo, despir a raiva da alma e afastar os ímpetos de vingança indiscriminada sobre tudo o que usa véu. E tem ainda um trabalho de Hércules para fazer: fazer-se respeitar, fazendo respeitar a sua cultura.
Mais importante do que converter um radical é não deixar que um extremista nos radicalize!
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