ALINA SOUSA VAZ |
O mundo ficou petrificado com os acontecimentos da semana passada em Paris e a solidariedade ultrapassou fronteiras e continentes. Contudo, não minimizando o acontecimento, obviamente, não vi qualquer manifestação em prol do massacre de duas mil pessoas na cidade de Baga e arredores, no nordeste da Nigéria.
Apesar das informações serem escassas, pois naquele país a liberdade de expressão é zero, a Amnistia Internacional investiga o acontecimento provocado pelo grupo armado islâmico Boko Haram que em raides e atentados à bomba estão a provocar um morticínio.
Dos sobreviventes que conseguiram fugir para Maiduguri, a capital do Estado de Borno, os relatos são proferidos a medo.
No entanto, apesar das notícias serem nulas, lamento que a Nigéria não esteja nas bocas do mundo como o acontecimento de Charlie Hebdo. Apesar da porta deste território ficar no continente africano e não ser a porta do vizinho merece o mesmo respeito e cuidado no trato.
Os homens que mataram em França reclamaram a justiça feita ao profeta Maomé e os que matam na Nigéria? O que os levou a raptar as meninas em Abril de 2014? O que os leva a proibir os estudos de dezenas de crianças em Peshawar? O que os leva a enviarem meninas de 10 anos com o corpo carregado de bombas? Que justificação apresentam estes homens para fazerem tal barbárie? Não entendo que tipo de religião dizem defender.
Não é a religião muçulmana que está em causa, mas sim um fanatismo exacerbado de grupos terroristas tentarem instaurar um Estado islâmico a todo o custo. Não coloquem tudo no mesmo saco. Todas as religiões merecem o nosso respeito, pois na diversidade corrigimos as nossas falhas enquanto seres humanos. É nisto que acredito.
Como adoraria ver todos os representantes de estado juntos, abraçados pela falta de expressão, de liberdade de educação, liberdade de religião, pela falta de justiça e de estado relativamente a estes países sofredores!
A necessidade de união é extrema perante este país. A falta de jornalistas, de internet, de equipas médicas, de voluntários de ONG(s), de missionários levam ao esquecimento da dura realidade destas vítimas. Tal como não se pode relativizar o que aconteceu em França, também não se pode relativizar o que acontece amiúde na Nigéria. Todas as mortes provocadas pelas mãos de terroristas têm o seu significado e por todas elas devemos ficar indignados e por isso digo: “Je suis Charlie Hebdo mais aussi je suis Nigéria”.
Termino com as palavras de Papa Francisco na visita que fez ao Sri Lanka “pelo bem da paz, nunca se deve permitir que as crenças religiosas sejam utilizadas para justificar a violência e a guerra”.
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