quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O LIXO SOMOS NÓS

RAUL MINH´ALMA
Não deitar lixo para o chão”, esta era a primeira frase que escrevíamos na escola quando o professor nos pedia para enumerar boas práticas ambientais. Uma lista que, na inocência e ingenuidade de muitos de nós, era amassada mentalmente e deitada precisamente no chão. Pois bem, em pequenos até podíamos ser inocentes e ingénuos, mas a inocência foi-se com a idade e, a julgar pelo que se vê por essas ruas, parece que a ingenuidade não está com grande vontade de se reformar.

Todo o lixo que encontramos nos passeios, junto às estradas e nas ruas em geral, deve-se a um simples fator: impaciência. Sim, impaciência. As pessoas são demasiado impacientes a encontrar um caixote do lixo, como se eles fossem raros ou como se os resíduos que transportam lhes diminuísse de tal forma o ego que se viam obrigadas a verem-se livre deles o mais rápido possível. Depois, o pacote de bolachas que não acabaram a tempo antes de sair de casa, o lenço de papel usado que parece pesar quilos no bolso das calças, o flyer que contra a sua vontade voltaram a deixar no para-brisas do carro ou mesmo o recibo das compras que não têm curiosidade em rever, vão parar onde? Ao caixote do lixo das pessoas sem vergonha aka chão/valeta.

A vergonha talvez seja mesmo o ingrediente secreto que falta nesta salada de pensamentos e mentalidades egoístas onde vagueia a sociedade consumista em que vivemos. É preciso ter vergonha de nós próprios, quando se tem este tipo de atitudes mesmo quando não está ninguém a ver ou por perto, é preciso repudiar estes gestos em nós (e já agora nos outros) para que um a um, fazendo uso da melhor publicidade do mundo que é o passa palavra, possamos fazer a nossa parte por uma sociedade mais consciente. Não é discurso de político nem é um discurso de ambientalista, é um discurso de cidadão que é o que muitos de nós pensa ser, só porque tem um Cartão de Cidadão, mas não o é.

“É para dar trabalho aos varredores de rua”, dizem. Não, não é dar trabalho é dificultar o que já têm. É humilhar covardemente pessoas que ganham a vida a limpar do chão a preguiça e a falta de respeito desta gente, sim, porque esse é o verdadeiro lixo, os papéis e os plásticos que vimos é apenas uma forma de o materializar. 

Sim, eles limpam as ruas, mas não são as ruas que precisam de limpeza…

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