GABRIEL VILAS BOAS |
Leio, incrédulo, o título duma pequena notícia perdida numa página menor dum diário português: «Mãe castigadora cancela o Natal». Em poucos segundos fiquei a par dos pormenores: uma mulher do Utah, EUA, decidiu tomar uma atitude drástica devido ao mau comportamento dos seus três filhos e cancelou o Natal. O casal americano tomou esta decisão depois de observar que os filhos, com idades entre os três e os onze anos, agiam frequentemente de forma ingrata, não respeitavam os pais e portavam-se muitas vezes mal. Determinados a mostrar que o Natal era uma época de “dar” e não apenas de “receber”, estes pais decidiram que os presentes supostamente destinados aos filhos seriam dados a outros meninos com menores possibilidades económicas e que a época natalícia dos seus petizes devia ser aproveitada para uma reflexão profunda sobre o seu comportamento.
Não posso deixar de apreciar a coragem destes pais. O Natal é a festa das festas, para as crianças e para os adultos, e uma medida destas será sempre marcante para todos os envolvidos. Acho difícil que alguma daquelas crianças esqueça o Natal de 2014, se tal medida se vier a concretizar.
Não discuto a justiça, a pertinência nem sequer a “proporcionalidade da pena”, embora tenha tendência a concordar com ela. A notícia suscitou-me outro tipo de reflexão: quão difícil é dominar a arte de educar os filhos!
Normalmente tendemos a assacar aos pais as culpas das faltas de respeito e educação que crianças e adolescentes revelam; procuramos justificações sociais, afetivas, psicológicas para explicar comportamentos errados dos nossos filhos, quando frequentemente a explicação é mais simples: eles não apreendem condutas assertivas porque não querem!
Muitas crianças assimilaram, na perfeição, a cultura da desresponsabilização, reinante na sociedade moderna, que em nada os ajuda no crescimento.
Por razões profissionais, falo com muitos pais e com muitos adolescentes e fico perplexo com a impotência revelada por alguns pais, quando confrontados com o mau comportamento dos filhos. Leio-lhes, nos olhos, o desespero próprio de quem quer alterar a situação e não consegue, porque o(a) filho(a) se recusa a colaborar. Falo com as crianças/adolescentes e tento perceber o seu ponto de vista; recordo-lhes os sofrimentos que estão a infligir aos progenitores; lembrou-lhes o que terão a ganhar com uma atitude diferente. Debalde!
Arrogantemente sentados no pote de ouro dos direitos adquiridos, ouvem com displicência; concordam com o sermão para o abreviar, mas jamais pensam em mudar de atitude. Vivem para o prazer imediato; recusam o esforço. Conhecem perfeitamente a noção de bem e mal, do certo e do errado, mas apenas cogitam aplicá-la quando em proveito próprio. É impressionante a frieza com que alguns meninos e meninas de 10/11 anos tratam injustamente colegas, professores, pais.
Mais importante que discutir as causas ou enquadrar sociologicamente o fenómeno é agir. E talvez a melhor ação seja a mais simples, ainda que, por vezes, possa parecer brutal.
Cancelar o Natal pode parecer brutal, mas talvez seja a melhor maneira de o tornar especial.
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