(#Aeroporto Sá Carneiro – Orly #Reconhecimento
da Rue de La Verrerie e zonas envolventes #Hôtel de Ville #Île de La Cité #Notre-Dame
# Ponte dos Cadeados, ao rio Sena # Sainte-Chapelle)
Família Borges Lopes: "Hotel de Ville à Paris" |
Não importa se já fomos antes a Paris.
Se temos filhas adolescentes, elas vão querer voltar lá.
Chegar a Paris às 14:00 (hora local)
pode ser encantador. Na verdade, pode ser perfeito para primeiro dia de viagem.
Depois de instalados num pequeno
apartamento na Rua de La Verrerie, no Marais, reconhecido como um dos bairros
mais “simpáticos” de Paris, guiados pela luz da “cidade-luz”, fomos fazer o
reconhecimento das ruas envolventes.
O Hôtel de Ville é, sem sombra de
dúvida, um dos edifícios mais belos de se contemplar. E a animação na praça, a
prática de desportos, a vida circundante dão-lhe um charme ainda mais especial.
De todo o lado, avistávamos a catedral
de Notre-Dame. O desejo era aproximarmo-nos mais e mais. A sua visão funciona
como um íman, atraindo pela imponência das torres e o pináculo retorcido contra
o céu. Depressa estávamos à porta. Todos os pescoços esticados procuravam
escrutinar a complexidade de trabalhos catedral acima: torres, janelas de
rosácea, portais, gárgulas, animaizinhos diabretes (como lhes chamávamos). Havia
uma grande uma fila de turistas, mas a entrada foi rápida. A visita a essa que
é uma das catedrais mais famosas do mundo faz-se calmamente: deixando-nos
envolver pelo silencioso interior da pedra; contemplando os imensos
arcobotantes, o intrincado trabalhado gótico, as altas abóbadas, as capelas, os
vitrais, o órgão, a Pietá, de Nicolas
Coustou – e eu, que me comovo de lágrimas com as “pietás”, como gostaria de
conhecê-las a todas, as do mundo inteiro!
Voltando lá fora, frente à catedral, contrastando
com os militares armados que patrulhavam a praça, dois noivos faziam uma sessão
fotográfica. É frequente avistarmos noivos em Paris, muitas das vezes não se
tratando do dia do casamento, apenas acompanhados por um fotógrafo. Julgo que
será mais fogo-de-vista do que outra coisa, na inquietação de dizer que
celebraram o casamento em Paris, na ânsia de registar essa fantasia em
fotografia, nesse medo de não aparecer – essa fobia –, porque é preciso aparecer para parecer.
Atravessando os portões para o jardim,
comprova-se que o pináculo e a Chapelle St.-Georges são de uma extravagância
difícil de explicar. Logo se avista uma das pontes
dos cadeados, neste caso, a Pont de l'Archevêché, debaixo do olhar
complacente da estátua do Papa João Paulo II. Independentemente da campanha “Love
Without Locks” (Amor sem Cadeados), levada a cabo pelas autoridades
parisienses, milhares de cadeados continuam a ser colocados nos gradeamentos,
selando promessas de amor, numa tradição secular, vinda de lendas e histórias
contadas em vários lugares do mundo. Será a tradição, se assim se pode chamar,
uma forma de pôr trancas ao Amor – “Tu
só, tu, puro Amor, com força crua / Que os corações humanos tanto obriga /
[…]” (já dizia o nosso Camões), não o deixando correr, amar, louvar-se,
honrar-se livremente? Uma forma de o agrilhoar? Ah, essas coisas do amor são
muito complicadas. É a loucura! Um casal português pediu-nos que lhes
tirássemos uma foto. No Sena, os barcos recheados de pessoas. Acenavam,
felizes, passando debaixo da ponte carregada de amores selados com cadeados. Como?
Queriam saber se lá deixei o meu?
Ao fim da tarde, fizemos o caminho a pé
até à Sainte-Chapelle. É magnífica a Île de La Cité. Barraquinhas estendem-se a
perder de vista nas margens do Sena, com pintores, alfarrabistas e diversas vendas
de “souvenirs”.
Tudo concorria para a magia que sempre
guardamos da “cidade-luz” – e aquele era um fim de tarde especial de calor e luz
–, enquanto se ia cobrindo de ouro a planície parisiense.
Na Sainte Chapelle, no Palais de Justice,
o controle é apertado, sendo necessário passar uma enorme fila com detector de
metais. A pequena capela, obra-prima do estilo gótico, construída para alojar
relíquias acumuladas durante as Cruzadas, é, para muitos, a mais bela do mundo.
Para nós, avistá-la a partir dos pesados portões dourados, fotografá-la longe
da multidão, na sua beleza impregnada de sobrenatural, com a simpática
permissão dos dois monsieurs gendarmes
que os fechavam (os portões) de-va-ga-ri-nho, debaixo do olhar atento do anjo
que atira uma flecha para o céu, símbolo maior do desejo do homem de subir até
Deus, foi um gosto surreal, como o são tantas outras coisas que fomos
encontrando na cidade. E eu, que amo os anjos, vejo nesse um dos mais belos que
já vi – eu que gostaria de conhecer todos os anjos, os de pedra e os de carne
que habitam o planeta.
Foi ainda tempo para visitar a misteriosa
tour de Saint Jacques, outro marco que, pela beleza e altitude, nos serviria,
doravante, de orientação dos dias.
E pronto. Perto daí, avistávamos os
imponentes edifícios do Musée du Louvre. A visita estava guardada para outro
dia. Foi mesmo, como dizia o outro, um “adeus compadre, até outro dia”, porque
era tarde e estávamos cansados e o museu estava a fechar e as coisas estavam
programadas assim… Ai, que vontade de entrar logo! As filhas queriam entrar
logo. Diziam que queriam ir lá. Agora!
Aspectos
positivos: é muito agradável, fácil e relativamente seguro,
andar a pé em Paris. A cidade é plana e temos a oportunidade de observar tudo
com bastante calma e atenção. É possível sentir, debaixo da pele, a pulsação da
cidade.
Aspectos
negativos: para este dia, nada. Ainda mal começámos a viagem,
não é verdade?
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